Um conto do século XVII, de tradição judaica chassídica , diz que um grande rabino resolveu visitar uma aldeia da Rússia. Aquela visita era importante para a comunidade judaica. Cada pessoa pensava nas muitas perguntas que queria fazer ao rabino. Quando, por fim, ele chegou, estavam todos reunidos, preocupados com as perguntas que lhe iriam fazer. O Rabino entrou e sentiu que havia uma tensão. Durante algum tempo não disse nada. Limitou-se a entoar baixinho uma melodia de sua tradição. Dentro de pouco tempo, todos cantavam com ele. Começou a dançar e, logo, a sua comunidade inteira dançava junto. Todos se envolveram na dança e nos cânticos. Desse modo, cada pessoa ficou de novo inteira e cada uma sarou as falhas que não lhe deixavam compreender as coisas como eram. Depois de dançar por algum tempo, o Rabino aos poucos, foi parando, olhou as pessoas e disse:
-“Espero ter respondido a todas as perguntas”.
A dança repõe as energias do amor em um equilíbrio unificador da pessoa e da comunidade. Ainda que seja envolta em erotismo...
Quando no Brasil o Carnaval se aproxima, em todas as cidades, blocos carnavalescos fazem ensaios para a festa, as pessoas preparam fantasias e bailes se sucedem como “gritos” antecipadores da festa. Há pessoas e grupos religiosos que vêem nisso mera alienação ou até presença diabólica. Sem dúvida, ocorrem abusos, seja na exploração do erotismo meramente comercial, seja no uso indevido de bebidas e todo seu séquito. No entanto, mesmo com estes riscos, toda festa, mesmo a mais aparentemente mundana, reúne pessoas em uma expressão de alegria, tem, por isso, uma dimensão nobre e, digo mais: espiritual.
Tanto no Carnaval, como no dia a dia, é importante valorizar os ritmos, músicas e danças de cada cultura. Um cântico medieval cantava:
“Dancem, estejam onde for.
Entrem no ritmo libertador.
Dancem a vida e o amor.
Como até na cruz eu tive de dançar
E venci a amargura e o desespero da dor.
Tornei-me assim de toda a dança,
A fonte e o primor”.