Não estou de luto , apenas gosto da cor
Com todo o capricho eu escolho o vestido fino , com decote discreto e de cor preta. Para não causar estranheza , coloco sapatos pretos , para combinar completamente com o modelito. Fecho as cortinas , apago as luzes e tranco a porta principal do apartamento. A temperatura estava agradável , e uma leve brisa vinha em minha direção. Com a arte de liberar charme , vou andando pela calçada , marcando cada centímetro com o barulho dos meus saltos. Em meio aos carros parados no sinal vermelho da avenida principal , passeava sozinha. A única dama .... a dama de preto. Estava sozinha , mas não sou viúva , nem estava de luto. Foi isso que tentei explicar ao senhor de cabelos brancos e paletó desbotado , que cruzou comigo perto da padaria. Será que era tão raro alguém andar de preto em plena tarde de verão? A retórica ficou em minha mente enquanto escutava a voz mansa e educada daquele homem. Entre muitas suposições , e sem me deixar falar , ele enche meus ouvidos , e ao final de tudo declara seus pêsames. Tinha tido uma semana bem difícil e cansativa . Por isso , nem me preocupei em explicar o que realmente acontecia. Deste modo , abaixei a cabeça , joguei os cabelos para o lado , e disse com voz calma e com os olhos cerrados: - Obrigado!