A Armadilha da Vida
Ser jovem é bom. Claro que é. Não se acham preteridos nas ações que envolvem força, como também em muitas outras. Podem jogar futebol. Praticar todos os esportes. Abaixam-se mais facilmente. Têm mais elasticidade. São mais olhados. Se homens, mais desejados pelas garotas. Ou garotos. Se mulheres, por homens mais novos ou mais velhos. Como por outras mulheres também. Normalmente são os preferidos quando nas disputas por empregos. Mesmo quando é exigida experiência. Recuperam-se com mais facilidade de doenças comuns. E têm muitas outras vantagens em relação aos mais velhos.
Mas o bicho começa a pegar quando pensam que a juventude dura pra sempre. Embora mais ou menos o mesmo aconteça com os velhos – quando pensam que a vida dura pra sempre. E cismam de investir em poupança, ou outra coisa, aos 85 anos. É a armadilha da vida. E aí os jovens, como muitos velhos também, irritam-se com facilidade. Acham que lhes é devido esse direito. Se desesperam com as adversidades. Ou por pouca coisa (alguns velhos também). Dispõem da vida de uma forma leviana, sabendo que podem abreviá-la. Porque têm mais tempo que os velhos. Acham que isso é o que significa viver: tem que ser perigosamente! E talvez tenham mesmo razão. Estão aí Raulzito, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Joana D’Arc e muitos outros. Que viveram bastante, apesar do pouco tempo de vida que tiveram. Aliás, os jovens acham que sempre têm razão. Porque representam, não apenas o novo, mas a novidade. Tudo o que detêm é a novidade. E o que não se encaixar dentro desse conceito estará ultrapassado. Não entendem que a novidade não possa ser descontínua. Porque o novo é necessariamente o atual. Não se vincula com o passado. Se fosse assim, o que seria da escola? Onde aprendemos um monte de coisas descobertas há milhares de anos?
Têm os jovens também a prerrogativa de saírem com facilidade do estado de alegria para o de tristeza. Muitas vezes não conseguindo voltar. Desconhecem que a água turva no dia seguinte se torna clara, sucumbindo as impurezas ao processo de decantação. Mas eles não esperam, não! Porque tudo tem de ser já! Já é!
Na verdade a assertiva não é exclusivista. Também os mais velhos mudam de uma hora para outra. E podem se tornar tristes ou alegres repentinamente. Alguns costumam não se valer do que aprenderam em seus anos de vida. Esquecem-se de que tudo deve se manter em equilíbrio. Quando esse equilíbrio é alterado, talvez o pulo do gato seja fazer com que ele volte logo à situação normal. Trata-se de um filme que os mais velhos já viram algumas vezes. Mas não passou em todos os cinemas para os mais jovens.
Mas então, quem são os velhos? Apenas jovens crescidos (na mais cínica das intenções). Ficando no meio disso tudo o sonho. Que pode ser uma prerrogativa dos dois grupos.