Almas Afins
 
 
            Este fenômeno humano do encontro de almas afins, seja no terreno sublime de uma verdadeira amizade, seja no impetuoso e avassalador amor, que não mede fronteiras, que se quer de qualquer jeito, que grita, que chama, que agarra, que não solta,  que gruda, que cola, que tatua, que marca como cicatriz, que prende e arrebenta, que arrasa, que sobe o Everest só pra gritar pro mundo o nome da Amada, que invade o terreno inimigo de peito aberto, que arde, que queima, que se impõe, que diz: esse amor é só meu, que dilacera, que rasga o coração, que enternece, que rola no chão,  que explode em estrelas e mil sóis,   que afoga, que inunda como um tsunami, que ama pra valer e  que se eterniza, enfim, tive a felicidade de mencioná-lo várias vezes em minha crônicas. Elas estão por aí nesses quase quatrocentos textos. Poderia revivê-los para meus queridos amigos e amigas.
            No entanto, passeando pela internet deparo-me com texto fantástico de um poeta patrício que não conhecia, Paulo Fuentes. Poderia chama-lo de poeta do amor, tantos belos poemas amorosos ele produziu.
            Mas quero falar das almas afins, fenômeno que tive a ventura de vivenciar algumas vezes na vida. Tenho um anjo da guarda maravilhoso que traz essas pessoas pra junto de mim. Hoje, passo a palavra para Paulo Fuentes que captou essa questão com rara sensibilidade e acerto, posso atestar. E não poderia privar os amigos desse maravilhoso texto, que incorporo  à minha crônica:   
           
“Dizem que para o amor chegar não há dia, não há hora nem momento marcado para acontecer. Ele vem de repente e se instala no mais sensível dos nossos órgãos, o coração. Começo a acreditar que sim. Mas percebo também que pelo fato deste momento não ser determinado pelas pessoas, quando chega, quase sempre os sintomas são arrebatadores. Vira tudo às avessas e a bagunça feliz se faz instalada.
Quando duas almas se encontram o que realça primeiro não é a aparência fisica, mas a semelhança d'almas. Elas se compreendem e sentem falta uma da outra. Se entristecem por não terem se encontrado antes, afinal tudo poderia ser tão diferente. No entanto sabem que o caminho é este e que não haverá retorno para as suas pretensões.
É como se elas falassem além das palavras, entendessem a tristeza do outro, a alegria, o desejo, mesmo estando em lugares diferentes. Quando almas afins se entrelaçam passam a sentir saudade uma da outra num processo contínuo de reaproximação até a consumação.
Almas que se encontram podem sofrer bastante também, pois muitas vezes tais encontros acontecem em momentos onde não mais podem extravasar toda a plenitude do amor que carregam, toda a alegria de amar e querer compartilhar a vida com o outro, toda a emoção contida à espera do encontro fatal.
Desejam coisas que se tornam quase impossíveis, mas que são tão simples de viver. Como ver o pôr-do-sol, caminhar por uma estrada com lindas árvores, ver a noite chegar, ir ao cinema e comer pipocas, rir e brincar, brigar às vezes, mas fazer as pazes com um jeitinho muito especial. Amar e amar, muitas vezes sabendo que logo depois poderão estar juntas de novo sem que a despedida se faça presente.
Porém muitas vezes elas se encontram em um tempo e em um espaço diferentes do que suas realidades possam permitir. Mas depois que se encontram ficam marcadas, tatuadas e ainda que nunca venham a caminhar para sempre juntas, elas jamais conseguirão se separar. E o mais importante: terão de se encontrar em algum lugar. Almas que se encontram jamais se sentirão sozinhas porquanto entenderão, por si só, a infinita necessidade que têm uma da outra para toda a eternidade.”
E,  para concluir, este amor que rola no chão, que pega o coração com as mãos para entregar ao amado é o próprio  canto da Alma, que jamais  pode ser sufocado...  
 
Gdantas