MORALISTAS DE PLANTÃO
"Telma, eu não sou gay". Esta frase cantada por Nei Matogrosso, na década de 80, pode assumir vários significados. Mas, para mim, a principal mensagem que ela passa, é a negação de um estado do ser. Negação essa que vinha acompanhada de sofrimento, uma vez que obrigava a pessoa a viver escondendo seu verdadeiro eu. Se ainda hoje o preconceito traz dor, imagino há três décadas atrás o que era viver uma vida escusa, tendo que negar para não ser discriminado, apontado na rua, na sociedade e até na própria família. Infelizmente, apesar da brecha que se abriu no preconceito, ainda existem os moralistas de plantão que nada mais fazem do que apontar o dedo aos que não se encaixam na "normalidade" imposta pelos valores sociais. A mania de julgar as pessoas por suas tendências íntimas e pessoais é como uma faca que mata o semelhante considerado "diferente". Diferente por quê? Todos somos seres humanos, somos espíritos em fase de evolução e se há algo que deve ser combatido não são os diferentes, mas sim os que têm atitudes que prejudicam a vida sócio- econômica, roubando, desviando dinheiro dos órgãos públicos, enganando os outros com a cara-de-pau de "bons cidadãos".
Ninguém assume determinado sexo porque quer. Isto pode ser algo orgânico, como também, para mim pelo menos que sou espiritualista, é algo que está no recôndito da alma e que o ser, por opção ou como prova, traz ao nascer. Tudo tem um sentido na vida e o pecado consiste em humilhar, diferenciar, apontar o dedo aos que não se encaixam nos padrões inventados pelo homem. Pecado é destruir uma vida, um semelhante com atitudes ferinas. Afinal, eu me pergunto, porque essas pessoas se incomodam tanto com a vida íntima dos outros? Em que lhes incomoda? Estarão eles livres de ter um membro da família na mesma situação, um dia? Falta de caridade, de solidariedade, de compreensão. Espíritos endurecidos, que se julgam os donos da verdade e não passam de seres mesquinhos. Certas pessoas deveriam se colocar no lugar do outro antes de criticar.
Se intitular dono da verdade, disseminando o preconceito, isso a pessoa é porque quer. Porque tem arraigado dentro de si os espinhos da incompreensão, do orgulho. Esses seres vêm vazios do berço para ferir os corações dos que cruzam seu caminho no mundo. E como as pessoas preconceituosas nunca têm a delicadeza de respeitar a sensibilidade alheia, cumpre a cada um que as perceba afastar-se delas para preservar o coração de maiores feridas.