CARNAVAL DE PERNAMBUCO II
Continuação de CARNAVAL DE PERNAMBUCO I
Uma constante em todas as civilizações é a citação da existência de gigantes, muitos deles sendo considerados filhos de deuses, como é o caso de Polífemo da Odisséia de Homero, ou que simplesmente causavam admiração ou temor, como Golias, abatido por Davi, conforme a lenda bíblica.
No carnaval pernambucano, notadamente em Olinda, há uma legião de bonecos gigantes que “desfilam” pelas ruas arrastando multidões.
Os ciganos húngaros “domesticavam” ursos pra dançar e essa herança está representada no nosso carnaval pelos ursos, popularmente chamados de La Ursa, cujo fantasiado que dá vida ao urso, tem que se sujeitar a vestir um macacão peludo e sobre a cabeça levar a máscara em forma de capacete e enfrentar o calor infernal durante as apresentações.
Os caboclinhos vestidos com penas levam nas mãos a preaca, instrumento de madeira em forma de arco e flecha, com que fazem a marcação da melodia tocada por pífanos ao ritmo de tarol.
É preciso muita resistência física para acompanhar um grupo desses por ser a dança em marcha acelerada, quase uma corrida.
No interior do Estado, precisamente na cidade de Bezerros, os papangus, corruptela do termo papa angu, invadem as ruas da cidade no domingo de carnaval. O foco da brincadeira é o mascarado se disfarçar de tal forma que fique irreconhecível até para os familiares.
Noutras cidades, outros mascarados, como os caiporas de Triunfo, brincam pelas ruas estalando chicotes (que eles chamam de relho). Há também as burras, os bois, e os cavalos feitos com papelão colado e que são carregados, ou vestidos, e executam coreografias, ao som de instrumentos, principalmente de percussão.
Além disso, tudo temos os blocos tradicionais, as escolas de samba, as troças (blocos de sujos) e os infames trios elétricos, verdadeiros canhões sônicos, capazes de ensurdecer qualquer um que esteja ao seu alcance.
No sábado de Zé Pereira o Recife pára para ver O Galo da Madrugada (que sai sempre depois das 10H00) e detém o honroso título de maior bloco carnavalesco do mundo por arrastar mais de um milhão e seiscentas mil pessoas, conforme atesta o Guiness Book.
Nesse período de loucuras, um verdadeiro “sanatório geral*” muitas agremiações desfilam pelas ruas dos bairros e da Região Metropolitana.
Das mais conhecidas podemos citar Cabeça de Touro (Engenho do Meio), Cata Ponche** (Várzea), Os Irresponsáveis (Arruda), Escolas de Samba Galeria do Ritmo (Casa Amarela) e Estudantes de São José (São José). Bacalhau do Batata, Pitombeira dos Quatro Cantos, O Homem da Meia Noite, Virgens do Bairro Novo e o Bloco Elefantes (Olinda).
Se essa rua fosse minha,
Eu mandava ladrilhar,
Com pedrinhas de brilhantes,
Pra Vassourinhas passar.
Há mais de cem anos, num raro momento de inspiração foi composta a melodia do Hino do Clube Vassourinhas, – seus componentes eram garis – que hoje é considerado o segundo hino do Estado de Pernambuco.
Os primeiros acordes se transformam num apelo irresistível à participação para todos aqueles que, como eu, tiveram a ventura de nascer numa terra onde também nasceram Luiz Gonzaga (Rei do Baião), Joaquim Nabuco (Abolicionista); Gilberto Freire (Sociólogo); Virgulino Ferreira, Lampião (Cangaceiro); Vitalino Santos (Ceramista); Francisco Brennand (Artista Plástico); Felipe Camarão, Ana Paes, Abreu e Lima, Frei Caneca, Pedro Ivo (Revolucionários); Barbosa Lima Sobrinho (Jornalista); Capiba, Nelson Ferreira, Lenine, Chico Science, Alceu Valença, Petrúcio Amorim (Compositores); Ivanildo Vila Nova (Poeta Repentista); Júnior Vieira (Cordelista)...
Salve oh! Terra dos altos coqueiros,
De belezas soberbo estendal,
Nova Roma de bravos guerreiros,
Pernambuco imortal, imortal...
(Continua em Tambores Silenciosos)
Glossário:
* Verso de Chico Buarque.
** Ponche = Tira gosto.