Deixe aflorar a criança que há em você
Olhando as pequenas árvores do quintal, ao sol da manhã e a casa do vizinho ao fundo, recordo o dia em que as plantamos. Christian é um amante da natureza e prefere viver aqui, na Praia do Anil, a ficar na cidade do Rio de Janeiro.
Quando chegamos encontramos mil metros quadrados de terreno cheios de lixo. Era a lixeira dos vizinhos e de outros moradores do local. Mesmo depois do terreno limpo e murado, o lixo era jogado para dentro do quintal. Fizemos um muro de 3m de altura. Ainda assim, durante um bom tempo encontrávamos sacolas com lixo no gramado.
Logo que chegamos, contratamos um caçambeiro para limpar o terreno. Foram tiradas várias carradas de detritos, depois fizemos um gramado respeitando o desnível do local. Mas, aquele espaço sem nada nos incomodava. A princípio plantamos várias goiabeiras, que nos disseram cresciam e frutificavam rápido. Depois, à medida que comíamos as frutas compradas na feira, Christian plantava em saquinhos plásticos. Um dia, debaixo de chuva fina, resolvemos que era hora de transplantar e regar aquelas mudas. A rega era feita diariamente. As primeiras frutas que colhemos depois das goiabas e do açaí, plantados antes, foram acerola, amora e mamão; no ano seguinte, o cajá-manga e abricó; mais um ano e tínhamos caqui e manga espada e no ano passado comemos as primeiras tangerinas e o primeiro cupuaçu.
Assim, tal as frutas do quintal, tudo na vida tem seu tempo certo, sua hora de acontecer. Assim como devemos respeitar o desnível do terreno para que a água não represe e provoque erosões, assim também, devemos respeitar os limites de cada pessoa. Assim como cada planta tem sua hora de frutificar, também as pessoas têm o seu momento de crescer. Não devemos acelerar o amadurecimento de uma criança, tirando-lhe a hora de brincar e lhe ensinando conteúdos inadequados para sua capacidade cognitiva. Seria tal qual transformar cupuaçu em goiaba. A goiaba frutificou no meu quintal em dois anos e o cupuaçu em 12. Não há como acelerar a frutificação do cupuaçu para dois anos.
Crianças não devem ser instigadas pelos responsáveis a aprenderem conteúdos inadequados para sua idade, como por exemplo, as capitais do Brasil com três, quatro anos e serem exibidas para os amigos. Com isso poderemos embaralhar seu desenvolvimento, torná-las confusas e perderão a ordem normal do entendimento. Depois de atrapalhar essa fase das crianças, dificilmente, tais responsáveis percebem o mal que fizeram e procuram ajuda de um profissional competente, para limpar o lixo depositado em seu cérebro. Deixam que sejam incorporados à sua memória e sem o acompanhamento correto, caminhem como árvores estéreis que nunca frutificam.
Por outro lado, pessoas que tiveram orientação adequada para seus padrões, de repente, se associam a outras, que, se julgando muito espertas tolhem todas suas manifestações, num controle tão extremo que chegam a manipular presentes, correspondência da família, maneira de pensar e até o que falar. Essa pessoa até então saudável, começa a somatizar problemas na vesícula, pressão alta, gastrite, diverticulite, diabetes e até um câncer. Caminha rumo a um AVC ou infarto, se também não se libertar e defender o seu ponto de vista com bons argumentos.
Portanto, na vida tudo tem de fluir naturalmente. Não deixe que o represamento de suas emoções cause erosões em seu físico, em sua alma, seu ânimo de viver e ser feliz. Deixe a criança que existe em você correr entre as árvores, comer amora às margens íngimes do rio, indiferente ao perigo, andar descalço na areia, mesmo que possa machucar os pés, soltar pipa na praia, andar de bicicleta, mesmo correndo o risco de cair... mas se levantar, ter amigos, muitos amigos. A fraqueza das pessoas está em se deixar manipular e viver a vida do outro não a sua. Deixar que a beleza da paisagem natural perdesse suas sombras repousastes no terreno desnivelado, mas limpo, cultivado e produtivo.
Praia do Anil, 11 de fevereiro de 2012
Benedita Azevedo
Olhando as pequenas árvores do quintal, ao sol da manhã e a casa do vizinho ao fundo, recordo o dia em que as plantamos. Christian é um amante da natureza e prefere viver aqui, na Praia do Anil, a ficar na cidade do Rio de Janeiro.
Quando chegamos encontramos mil metros quadrados de terreno cheios de lixo. Era a lixeira dos vizinhos e de outros moradores do local. Mesmo depois do terreno limpo e murado, o lixo era jogado para dentro do quintal. Fizemos um muro de 3m de altura. Ainda assim, durante um bom tempo encontrávamos sacolas com lixo no gramado.
Logo que chegamos, contratamos um caçambeiro para limpar o terreno. Foram tiradas várias carradas de detritos, depois fizemos um gramado respeitando o desnível do local. Mas, aquele espaço sem nada nos incomodava. A princípio plantamos várias goiabeiras, que nos disseram cresciam e frutificavam rápido. Depois, à medida que comíamos as frutas compradas na feira, Christian plantava em saquinhos plásticos. Um dia, debaixo de chuva fina, resolvemos que era hora de transplantar e regar aquelas mudas. A rega era feita diariamente. As primeiras frutas que colhemos depois das goiabas e do açaí, plantados antes, foram acerola, amora e mamão; no ano seguinte, o cajá-manga e abricó; mais um ano e tínhamos caqui e manga espada e no ano passado comemos as primeiras tangerinas e o primeiro cupuaçu.
Assim, tal as frutas do quintal, tudo na vida tem seu tempo certo, sua hora de acontecer. Assim como devemos respeitar o desnível do terreno para que a água não represe e provoque erosões, assim também, devemos respeitar os limites de cada pessoa. Assim como cada planta tem sua hora de frutificar, também as pessoas têm o seu momento de crescer. Não devemos acelerar o amadurecimento de uma criança, tirando-lhe a hora de brincar e lhe ensinando conteúdos inadequados para sua capacidade cognitiva. Seria tal qual transformar cupuaçu em goiaba. A goiaba frutificou no meu quintal em dois anos e o cupuaçu em 12. Não há como acelerar a frutificação do cupuaçu para dois anos.
Crianças não devem ser instigadas pelos responsáveis a aprenderem conteúdos inadequados para sua idade, como por exemplo, as capitais do Brasil com três, quatro anos e serem exibidas para os amigos. Com isso poderemos embaralhar seu desenvolvimento, torná-las confusas e perderão a ordem normal do entendimento. Depois de atrapalhar essa fase das crianças, dificilmente, tais responsáveis percebem o mal que fizeram e procuram ajuda de um profissional competente, para limpar o lixo depositado em seu cérebro. Deixam que sejam incorporados à sua memória e sem o acompanhamento correto, caminhem como árvores estéreis que nunca frutificam.
Por outro lado, pessoas que tiveram orientação adequada para seus padrões, de repente, se associam a outras, que, se julgando muito espertas tolhem todas suas manifestações, num controle tão extremo que chegam a manipular presentes, correspondência da família, maneira de pensar e até o que falar. Essa pessoa até então saudável, começa a somatizar problemas na vesícula, pressão alta, gastrite, diverticulite, diabetes e até um câncer. Caminha rumo a um AVC ou infarto, se também não se libertar e defender o seu ponto de vista com bons argumentos.
Portanto, na vida tudo tem de fluir naturalmente. Não deixe que o represamento de suas emoções cause erosões em seu físico, em sua alma, seu ânimo de viver e ser feliz. Deixe a criança que existe em você correr entre as árvores, comer amora às margens íngimes do rio, indiferente ao perigo, andar descalço na areia, mesmo que possa machucar os pés, soltar pipa na praia, andar de bicicleta, mesmo correndo o risco de cair... mas se levantar, ter amigos, muitos amigos. A fraqueza das pessoas está em se deixar manipular e viver a vida do outro não a sua. Deixar que a beleza da paisagem natural perdesse suas sombras repousastes no terreno desnivelado, mas limpo, cultivado e produtivo.
Praia do Anil, 11 de fevereiro de 2012
Benedita Azevedo