PONTA GROSSA
PONTA GROSSA
Em muitas das minhas crônicas, se não escrevi claramente, quem já leu algumas delas, pode perceber o quanto sou saudosista.
Pois hoje, me deu uma vontade bem grande de relembrar certas pessoas, que fizeram parte de páginas e páginas do livro de minha vida. Para não falarem que me esqueci deste ou daquele, com quem ainda hoje convivo, vou me restringir aos antigos colegas do Arquidiocesano, os quais, muito provavelmente, jamais tomarão conhecimento dessa lembrança. Daqueles que, nunca mais tive notícias, não sei onde estão, tomara que todos estejam vivos e com saúde, o que rezo para que isso aconteça.
É preciso adiantar, também, que o Arqui, famoso como era, recebia alunos de todas as partes do Brasil, do Oiapoque ao Chuí.
Convivi, naqueles anos da década de 1950, com descendentes de famílias famosas, como dos Junqueira, grandes fazendeiros, tradicionais no norte de São Paulo, e divisa com Minas Gerais; dos Lunardelli, tidos como os reis do café; dos Garcia, que dominavam o transporte público no norte do Paraná; dos Durães, em Londrina. De Santa Catarina, havia os Brandalise, o Ivan Bonatto, ligados aos grandes frigoríficos, e de Goiás o Ivo Biancardini.
Em 1956, nas férias de julho, a convite do José Antonio Carollo e dos Petrobelli, Pedro e Atílio Jr., o primeiro residente em Guarapuava, e os dois outros em Ponta Grossa, no Paraná, fui passá-las em suas casas. Quinze dias em cada uma. Na casa dos Petrobelli foram os primeiros. Família muito tradicional da cidade. O pai, Atílio, fabricante de móveis, era um homem excepcional. Exímio sanfoneiro, campeão paranaense de bolão, jogo muito difundido na região, e de tiro ao prato. Num determinado dia, levou-me a uma caçada de codorna. Ele, eu, e dois cachorros em uma caminhonete. Impressionante e bonita a caçada. Os cachorros pressentiam a ave para avisar o caçador, e, depois, partiam para cima dela, a fim de provocar o vôo. Seu Atílio não errava um tiro. Triste foi o final. Um dos cachorros, fêmea, estava prenhe, e não conseguiu andar o caminho de volta até o veículo que nos transportou. Eu, como auxiliar do caçador, fui obrigado a trazê-la no colo.
Foram quinze dias formidáveis, com deliciosos almoços e jantares, gente que vinha nos conhecer, tornando a estada um ótimo passeio. Numa tarde, houve um sarau musical, com a presença de músicos amigos do anfitrião.
No ano seguinte, meus pais resolveram passar o carnaval em Curitiba. Também fui. Após os festejos, querendo eles ficar mais alguns dias na capital paranaense, a convite dos Petrobelli voltei a Ponta Grossa para rever aqueles bons amigos.
Ali desfrutei, por mais uma semana, do convívio daquela família simpática e hospitaleira.
Meus pais, já a caminho de volta a São Paulo, passaram por lá, sendo recebidos com um delicioso almoço. O prato principal: codorna à escabeche e radicci. O interessante foi a necessidade da ave ser mastigada com muito cuidado, pois, ainda permaneciam alguns chumbinhos dos tiros certeiros de seu Atílio.
Saudades!