CARNAVAL DE PERNAMBUCO I

O carnaval talvez seja a festa mais antiga no rol das festas anuais ainda em uso pelos ocidentais.

Presume-se, nos dias atuais, que teve origem nas homenagens ao deus Dionísio (Baco) onde eram negligenciadas as normas de ética e da moral, com muita bebida, dança, licenciosidade e carne crua.

Entretanto se fizermos uma análise com maior profundidade histórica, teremos que considerar a hipótese de que talvez essa comemoração esteja ligada ao fim do inverno no hemisfério norte, onde com o ressurgimento da vida, após a neve, havia abundância de caça e as pessoas podiam comer carne fresca outra vez, comemorar o plantio da nova safra e, como os outros animais, copular para gerar novos filhos.

Essa celebração à vida, como quase todas as coisas, foi incorporada às religiões, com a consequente alteração do sentido e da época de realização, para melhor se adaptar à conveniência dogmática.

O carnaval é uma das principais comemorações do Brasil. Nessa época há um frenesi, em todos os ramos da economia na maioria das cidades, com a chegada de centenas de turistas estrangeiros e a migração interna que praticamente esgota nossa capacidade hoteleira.

As cidades recebem maciças injeções de recursos com as suas populações grandemente crescidas e o surgimento de mão de obra temporária, principalmente nas áreas de produtos de consumo imediato e de serviços.

Pernambuco também faz parte deste contexto e proporciona a quem nos visita a oportunidade de participar de um gradiente notável de manifestações folclóricas, cujas origens, as mais diversas, se perdem na noite do passado por falta de registros confiáveis.

Com colorido, ritmo, música e dança capazes de encantar até mesmo aqueles que, como eu, nasceu aqui e vê desde a mais tenra idade, a cada ano, tudo isso se repetir.

Pernambuco é, também, berço do frevo.

Originado da alteração da cadência dos antigos dobrados executados pelas bandas marciais e cuja coreografia, improvisada em sua maioria, exige do passista resistência física de touro e agilidade de felino.

São raros os pernambucanos que sabem e que conseguem realmente fazer “o passo”, mas ao som dos metais seguidos pela percussão acelerada do “frevo de rua” é impossível para o nativo ficar parado indiferente ao apelo ancestral que faz o sangue ferver.

O termo “frevo” é originado do verbo ferver.

Imagine a cena de duas pessoas do povo conversando e uma dizer para a outra,

- Ói mulé, eu frevo quano oiço essa musga, visse!

O frevo de bloco, cadenciado, ao som de bandolins, banjos, violões, bumbos, pandeiros, tubas, clarinetes e flautas, arrasta centenas de foliões que se juntam aos coristas cantando as canções, quase sempre com apelo saudosista.

Outra manifestação de grande beleza plástica é o maracatu (representação cerimonial da corte do Congo) que tem na boneca (Calunga em Yorubá) o repositório das entidades naturais (Orixás).

Na capital do Estado o “maracatu de baque virado” tem a coreografia semelhante às giras de candomblé e, como na ciranda, lembra o movimento das ondas na beira mar, quebrando na praia.

O movimento dos braços dos componentes é uma alegoria que lembra o movimento de remar em barcos imaginários, onde as almas dos ancestrais retornam para a mãe África, de onde, escravizados, foram trazidos para plantar os canaviais que fizeram a riqueza de Pernambuco no período colonial.

Surgido, no meio desses canaviais, o ‘maracatu de baque solto”, tem como destaque os caboclos de lança.

Suas roupas coloridas, finamente bordadas com lantejoulas e pedras brilhantes, levam preso às costas um coxim onde são afixados chocalhos de diversos tamanhos que fazem a marcação dos passos nas longas caminhadas.

Durante as apresentações a coreografia feita com as lanças, longas e enfeitadas com fitas de diversas cores, lembra as folhas do canavial açoitado pelo vento.

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