Fulano de Tal
Aquele homem de aparência sombria e melancólica só sabia trabalhar. E como trabalhava. Trabalhava mais por ocupação do que por dinheiro. O que ganhava dava para pagar as contas e guardar mais que o dobro. Era solteiro, e o trabalho o alegrava. Não tinha amigos, muito menos inimigos. Não abria a boca pra nada. Muito recatado e tímido. Talvez morasse aí a causa de nunca ter namorado. Trabalhava com contabilidade. Contas... era a única coisa que sabia contar. Seu rosto era caricato; o corpo, robusto, mas sem qualquer tipo de beleza aparente. E foi que um dia apareceu uma mulher em sua vida. Linda; cabelos negros derramados sobre os ombros; esbelta por natureza, mas charmosa e imponente por esperteza. Essa mulher precisou dos trabalhos daquele homem tímido, que, por sua vez, não decepcionou. Fez com maestria todo o trabalho solicitado pela bela mulher. Só não se deu conta de que ela se interessou por ele. Nunca daria. Autoestima baixíssima e uma vergonha abismal jamais permitiriam algo. “Muito bom o seu trabalho. Adorei. Você é um bom profissional...” E nada daquele ser acanhado tomar alguma atitude. Até pensou em dizer algo do tipo: “Muito obrigado. Aceita jantar comigo essa noite?” É...Só pensou. Ela adoraria o convite, mas, iniciativa é algo que tem de partir dos homens, pensava. Ele também pensava, mas não falava. Ele só trabalhava