CHATO DE GALOCHAS OU MALA SEM ALÇA?

Chato de galochas para quem não sabe é uma expressão muito popular em todas as regiões do Brasil. Significa aquela pessoa que consegue ser inconveniente, insistente e muitas vezes pedante, além de ter capacidade de irritar todos a sua volta, com piadinhas sem graça e muitas vezes ofensivas.

As galochas de acordo com a origem do ditado popular foram introduzidas na cultura brasileira na década de 50, quando as ruas ainda não eram calçadas. Era, pois, creio que não existam mais, um tipo de calçado de borracha colocado por cima dos sapatos para protegê-los da água e da lama nos dias de chuva. Naquela época, sempre havia uma pessoa, um “chato” que entrava em casa sem tirar as galochas molhadas e cheias de barro, molhando e sujando o chão. Daí a expressão “chato de galochas”, que perdura até hoje; mas o sentido atual é atribuído a uma pessoa muito, mas muito chata.

A expressão vem do francês “chatô du galoche”; segundo o cronista e bruxo, Raphael Reys.

Hoje se usa mais a locução estereotipada, mala sem alça, que tem o mesmo significado.

Num dia que tinha tudo para ser aprazível, pois, iríamos assistir uma boa partida de futebol transmitida pela televisão, fomos, eu, meu cunhado Reginaldo e minha mãe, visitado por um parente inconveniente e chato de galochas.

Torna-se necessário esclarecer que, o dito cujo, que trazia a tiracolo a sua alfaceana namorada, carrega impregnada em seu jeito de ser a mania centralizadora de ser o alvo das atenções.

Chegou, acomodou-se e tomou pose de soberano; entre uma palavra e outra, virava um copo de cerveja. Abastecia-se num ritmo alucinante e incansável; a cada gole que bebia, os decibéis de sua voz aumentavam, feriam nossos ouvidos e tornava o ambiente insuportável. Tudo isso sem contar as piadas sem graça, as “tiradas” fúteis, frívolas e bobas, assim como, as provocações gratuitas, uma vez que, torcia pelo time adversário do nosso. Era um insuportável estranho no ninho.

A chatura foi tanta que o meu cunhado Reginaldo, sempre polido, cordato e educado, perdeu a paciência com o patético rapaz; coisa que eu nunca vi. Eu, por minha vez, fiquei calado a tudo, tal qual um monge tibetano, numa paciência de Jó, suportando cabisbaixo e fazendo par com a minha mãe que, caladinha na sua poltrona, passou todo o jogo ouvindo os impropérios do chato de galochas.

Confesso que, a minha vontade era mandar o mala sem alça para a “tonga da mironga”, mas, ponderei bastante, mordi a língua e resisti bravamente.

Esse parente, chato de galocha, é tão inconveniente que não cabe em seu próprio lugar e quer a todo custo se destacar; para tanto fala alto, gesticula em excesso, sem se dar conta de que importuna. É portador da síndrome do galo, que acha que o sol nasce para vê-lo cantar.

Sem dúvida nenhuma é merecedor do prêmio Nobel da chatura e da inconveniência.

Deus me perdoe, mas, mesmo sendo parente é difícil de aguentar; contudo, como se diz por aí, por causa do santo beijamos o altar.