Caminhos e Estradas
      

 
       Observei a onça pintada caminhando na floresta. O helicóptero tudo filmava. Enfim, conseguiram prendê-la para examinar sua saúde e revisar a coleira transmissora de sinais ao GPS. A onça apenas fugia, perseguia ninguém; aliás, só se defende, quando faminta ou agredida.  Na reportagem, havia fazendeiros que queriam matá-la para ela não comer boi nas suas vastas terras; havia um fazendeiro estrangeiro, com a estranha ideia de sempre reservar  “o boi de piranha” do seu rebanho para a preservação daquele felino em extinção. Na floresta, a onça percorria caminhos sem riscos no chão, com o sentido que Deus lhe deu e a toda vida da natureza. Ela não se perdia nos atalhos, sabia aonde ir pelos melhores caminhos. Todos os caminhos, sem interferência do homem, são livres à natureza.  Embora Marx tenha me levado a acreditar que o homem necessite transformar a natureza em função da sua sobrevivência, princípio esse definidor de cultura, Rousseau, muito antes daquele, relembra que a sociedade degenera a natureza e, até sem necessitar para sua sobrevivência, acrescente-se que perdulariamente destrói seu meio ambiente.

       Diferentemente da onça, transformamos caminhos em estradas, como a “Transamazônica”, de Cabedelo aos confins do Amazonas, que, apesar de tantas árvores derrubadas, ainda permanece inacabada.  Na época, usavam-se duas justificativas: segurança e desenvolvimento. Lembro-me desse “revolucionário” binômio ao ler muitas notícias de mortes na Rodovia BR 230, que nos leva do litoral ao sertão.  Excetuando o trecho já duplicado de João Pessoa a Campina Grande, são 344 quilômetros de perigo, durante 4,20 horas de constantes ameaças à vida e de morte aos que não tiveram a felicidade do seu destino. Carros, caminhões e ônibus, em movimentos contrários, se chocam uns com outros e matam criaturas e famílias.

       As onças não se acidentam,  bem se conduzem nos caminhos da floresta.  Já que transformamos os caminhos ao sertão em estradas, que se consertem seus defeitos, quanto antes, duplicando-se essa rodovia, o que compensará também a ausência da “Transnordestina” ao longo do Estado. Manutenção de uma via não consiste em tapar buracos, mas em conservá-la viável, com rigor na observância da sinalização de estacionamento, ultrapassagem e velocidade, para se evitar a morte dos que viajam prazerosamente ao nosso belo sertão.