Hora certa é com a polícia

Hora certa é com a polícia

Nem bem os ânimos da greve da polícia na Bahia haviam se assentado e os policiais civis e militares do Rio de Janeiro deflagram a sua, numa estratégia muito bem bolada para incitar as autoridades a tomarem uma atitude para evitar o conflito, pois o carnaval está aí, a poucos minutos de entrar na passarela do samba. E sem polícia, quem vai sambar é o povo, exposto à insegurança das ruas sem dono, sensação que fica quando não há alguém no comando do combate ao crime. Policiado, o Rio já é perigoso no meio da noite, imaginem então que maravilha a liberdade para a atuação dos marginais frente aos turistas desavisados. Acredito que quem tenha juízo não vá sair às ruas. Nem mesmo para ver o gingado das mulatas, o colorido das escolas e o espetáculo dos carros alegóricos, verdadeiras obras de arte de artistas anônimos. Quando as baterias derem o primeiro toque, na certa irão abafar os gritos da violência que certamente irá descer dos esconderijos escuros para o palco iluminado da cidade maravilhosa. Assim como na Bahia, onde o carnaval é uma epidemia que contamina todo o território baiano. Então, nada mais providencial que uma greve daqueles que podem garantir a paz nesses dias de folia, em solos que praticamente tremem no reinado de Momo. O medo da população mobiliza o poder público para que o conflito se resolva o mais rápido possível e não comprometa a alegria do povo. Debaixo de confetes e serpentinas, ninguém está preocupado em julgar se a greve é legal, se os policiais estão agindo de acordo com o que a Constituição prevê e se o código de ética está sendo ou não respeitado. Carnaval não é tempo de preocupações com o social, com a economia, com a responsabilidade fiscal. Carnaval é tempo de cair na folia, beber até o dia raiar e se possível, sair bem mascarado para fazer estripulias. Apesar de que hoje em dia, quase tudo é permitido e todo o mundo não está nem aí para a sodomia que desfila nos clubes e nas ruas. Deixem as medidas cautelares para quem de direito tomar as providências, como salário digno para quem enfrenta balas de peito aberto todos os dias, corre atrás de bandidos e acode às vítimas da violência urbana, das estradas, e de todo lugar onde o mal encontra guarida. Policial, assim como professor, são profissões essenciais para que a paz e o crescimento social existam. E geralmente são os que recebem os piores salários do serviço público. Parece que quanto mais digna é a profissão, menos valorizada ela é. Aliás, nesse país, valorização é um atributo que quem quer ter, tem que ir à luta, não importa quando, nem como... E muitas vezes, essa luta não dá em nada, como agora, onde os guerreiros estão sendo julgados como bandidos. Talvez porque a luta esteja sendo inconveniente por causa da hora. Afinal, não existe o recurso da autovalorização, privilégio restrito de nossos ilustres representantes, que de dentro do conforto de seus gabinetes, criam e aprovam leis exorbitantes para aumentar suas verbas e seus salários, sem um pingo sequer de constrangimento pelos milhões que correm dos cofres públicos para a cúpula do governo, senado e câmaras de deputados. Coitados, eles realmente merecem os milhões que recebem... Já pensaram esse país sem políticos? Seria como um circo sem palhaços, um Brasil sem carnaval, não seria?

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 10/02/2012
Código do texto: T3491474