Criando arte a partir da tensao (traduçao feita por mim)

Criando arte a partir da tensão

Ontem por volta de meia noite, eu estava no palco tocando com uma banda chamada “ fiction family” numa cidade chamada Hollywood. Perto das três da manhã, estava voltando para minha cidade com um saco vazio de pipocas e uma bebida à base de café que, outrora, pareceu-se com café. No momento em que o sol estava nascendo, eu estava sentado na poltrona 20C, em um vôo da companhia aérea Southwest partindo de San Diego para Nashville ( Sim! Eu só pego vôos em companhias aéreas de primeira! Só para constar: Eu não sou endorser de nenhuma delas, mas estou aberto a negociações!). Eu estava me sentindo muito bem, mas não devo ter percebido que o homem na poltrona ao lado diz que parece que eu não durmo há semanas. Eu não dei importância e disse a ele que eu iria dormir durante o vôo. Quando ele descobrir que eu sou músico, vai se perguntar se nenhuma de minhas canções são merecedoras das minhas olheiras. Ele diz que deve ser um caminho muito difícil de percorrer e por isso pareço insustentável.

Ele é honesto quando diz que não durmo muito e que não tomo banho há dois dias, ou três. Mas ele está enganado sobre o resto. Mastigo aqueles deliciosos amendoins servidos nos aviões e digo ao 20A que tenho o melhor emprego do mundo. Eu faço o que amo. Eu amo o que faço. E acredito no que faço. Ele ri, puxa a aba de seu chapéu e diz: “ Boa sorte filho, espero que você não perca seu otimismo!” Dentro de alguns minutos meu amigo está dormindo encostado na janela e eu fico acordado com meus pensamentos. Eu sou idealista demais? Não será que quero fazer muitas coisas ao mesmo tempo?

20A e eu estamos sobrevoando os EUA e fora da janela, à minha esquerda, posso ver montanhas cobertas de neve andando bem lentamente. Desertos, rios e as curvas das cidades, como num sonho. 20A começa a roncar um pouco, e o mundo abaixo de nós parece tão tranqüilo, tão sereno. Estamos sobrevoando os desabrigados, a fome, os funerais, os homicídios e as guerras. Em algumas horas o avião irá pousar num planeta de turbulência social, e muito alem de qualquer coisa nosso avião poderia comandar o céu. Nosso planeta é um planeta de polaridade: rico e pobre, fome e fartura, saudáveis e os doentes terminais. Dentro dessas aparentes contradições nós lutamos por significados, por dignidade e por igualdade. A historia humana é construída à base dessa luta. Bem abaixo de nós, o mundo está acordando na precisa balança entre a vida e a morte, amor e o ódio, esperança e aflição.Intolerável.

Não tem saída. Toda nobre busca irá custar: justiça, sabedoria, força, casamento e filhos, isso custará seu fôlego, suas lagrimas, seu sangue e até sua vida. Estamos nessa juntos! Lutando para dar sentido à maldade e fazer nossa vida valer a pena. Todos nós estamos numa jornada de desejos, ansiando ardentemente dias melhores. Mas nossos sonhos estão guardados na tensão dos obstáculos entre o que nós somos e o que esperamos ser. Como numa foto, estamos levitando em uma calma e tranqüila vida. Quadro a quadro vivemos nossas vidas, presos para sempre no éter do gélido momento atual.Quadro a quadro estamos congelados no presente entre o ontem e o amanhã. Quadro a quadro nós seguimos adiante para o infinito desconhecido que apenas o amanhã pode trazer.

Entre a dialética da vida e da morte, nós estamos puxados, esticados com as cordas da minha guitarra. Nós estamos pra sempre dentro de um quadro que representa seres inanimados. Um balanceamento delicado entre o começo e o fim, entre a consciência e o sonho, entre o esquecimento do que chamamos de nascimento da vida e a lembrança do que chamamos de morte. Nós somos as notas dançando nas cordas do tempo, mantidas firmes entre a vida e a morte. Esta é a polaridade de nossa existência, mantendo-nos firmes entre o desespero e a esperança, fé e a duvida. Estamos amarrados entre nosso nascimento e a nossa morte. A humanidade está dançando no ponto médio do “fretboard”. A morte ,um dia, irá cortar a corda e até lá nos viveremos na tensão.

Sim, a canção da humanidade é o absurdo, a tragédia, o cômico. O profano e o bonito, o caído e o redimido. Nossa sociedade é cheia de contradições e absurdos. Nós afirmamos acreditar que toda a humanidade foi criada de forma igualitária num país dilacerado pelos problemas raciais. Nós punimos assassinatos com pena de morte. Nós acreditamos servir um Deus que ama o pobre, servindo-o em Catedrais de luxo com campanários banhados a ouro. Nós almejamos mulheres e queremos saber porque a filinha do papai tem baixa auto-estima. Os altos e baixos, o claro e o escuro. Este é o disparate de nossa existência bipolar, distendidos entre a dicotomia da morte e do suspiro, cinzas e dinheiro, dor e beleza. O escopo disso tudo é suficiente para deixar um homem louco.

E ainda, nós almejamos certeza e autenticidade. Nós ansiamos a absolvição final, a face que nunca irá partir. A tensão nos faz procurar por coragem. Nós procuramos segurança na posse ou na posição. Procuramos redenção no fundo do poço, ou na ponta da agulha. Procuramos justiça nos seios fartos do governo, aguardando por esclarecimento na conformidade adormecida dos subúrbios. Nós estamos procurando libertação, por melodia entre a cacofonia. Os vices. Os versas. Mas, todos esses “vices” oferecem somente uma libertação temporária.

A musica sempre me ajudou a recuperar a sanidade. A melodia pode ajudar a juntar as coisas quebradas, me trazendo de volta à saliência da depressão. As vezes, a musica diz mais do que palavras. A melodia traz a tensão e libera uma dança, em vez de contenda. Isto não é para dizer que a musica para a dor. Em vez disso, a musica contextualiza a dor dentro dos limites da maior experiência humana e assim traz um certo significado intemporal e profundidade para o desespero temporário que eu sinto. Resumindo, eu amo musica! Eu amo me encontrar nas canções dos outros. Eu amo encontrar alegria escrevendo minhas canções. Sim, até mesmo canções sobre a loucura: tentando passar da aflição para a esperança, cantando na tempestade.

Recentemente, meus amigos e eu gravamos um novo álbum sobre o grande esforço que chamamos de vida. Queríamos um álbum que falasse sobre a polaridade de nossa existência, a escuridão e a luz, a aflição e a esperança. Queríamos nos destacar, fazer um mundo musical que fosse mantido na tensão pelos pólos da escuridão e da luz. Talvez minhas canções sempre vieram da tensão, daquilo que me aterroriza, das coisas que me deixam acordado a noite. Por mais que eu queira, não consigo fugir dessas coisas. As cordas de nossos corações não foram feitas para segurança. Não, essas coisas foram feitas para dançar! Segurança não pode ser encontrada transitoriedade. Eu luto para olhar além de tudo isso. Somente a transcendência pode dar significado para a tensão, propósitos a libertação. Então eu desisto de esperar por segurança. Eu desisti de esperar nos bolsos cheios dos poderosos e dos bem alimentados.Eu tenho a esperança que eu poderia comprar somente aquilo que preciso. Realmente se o mundo conhecesse a justiça, estaríamos numa situação melhor.

E de fato, estou sendo otimista, esperando ainda pela libertação final. O coro final que irá dominar a dor de uma vez por todas. Eu quero mais do que o dinheiro pode comprar.Estou procurando pela Majestade que os filósofos chamam de “Argumento da causa primeira”. A redenção eterna que nos ensinou como morrer. Eu o procuro entre nas cinzas da bandeira americana. O pó da babilônia, os restos de nós, de nossas promessas não cumpridas. Eu o procuro nas cinzas de nossos pais. Vejo sua face nos olhares que passam pelas ruas – nos olhos de uma mãe solteira, tentando fazer face às despesas; numa fotografia que se esvaece; nas mãos de uma mulher sem lar falando consigo mesma. Sim, ainda sou idealista demais para acreditar que todos são importantes, que o reino dos céus deve estar disponível, batendo e acenando para eu o perseguir. Corro como o oceano, ansiando pela costa. Ainda procuro um lugar onde braços abertos acolhem grande quantidade de pessoas ansiando respirar livremente. Maior que o “rock and roll”, maior que a América. Maior que a escuridão. Quero cantar as canções para os privados de seus direitos, para aqueles deixados de lado.Algum lugar abaixo de mim, a senhorita Sabedoria está clamando nas ruas. “Aqueles que têm ouvido, ouçam!” Procuro entre as ruínas de uma aflição pós-moderna, onde o ultimo será o primeiro, e aquele que não está ocupado nascendo, está ocupado morrendo.

Abaixo de mim toda raça humana está marchando relutantemente do passado para o infinito, entretanto, 20A e eu estamos sobrevoando bem acima de tudo isso, no claro e azulado céu, em nossas próprias jornadas em busca do desconhecido. E nesta jornada, não estou com medo da cozinha de pontos de parada de caminhões ou mesmo do amendoins do avião. Não, a jornada é onde a musica é encontrada.Então eu canto. Leio. Ouço. As lanchonetes, os celulares e as lan-houses. O ritmo de southbound train. Minha vida é uma canção: letras, melodia, linhas e versos. E esta minha canção ainda está tocando. Estas não são as canções do desespero. Meus olhos vermelhos ainda estão cantando entre as catacumbas, cheios de anseios e esperança. Sim, amo o que faço. Estes humildes hinos são meu “hino nacional”. Quando os canto sinto a esperança, a alegria. Sinto o calor da eternidade, uma verdade extraordinária. E meu vizinho, o 20A, está certo: A jornada pode ser dura. Nós perdemos ente queridos ao longo da estrada. Fico abatido de tempos em tempos. Sinto saudades de minha esposa. E certamente não posso fazer isso pra sempre. Com certeza haverá um tempo para relaxar. Um tempo para desacelerar tudo. Mas por enquanto, eu vou cantar. Vou pegar meu violão e deixar as cordas dançarem, bem esticadas. É verdade, um dia as cordas vão arrebentar. Ainda posso ouvir o som das batidas do meu coração. É isso galera! Façam barulho!