Eu me preocupo
Embora minha predileção é pela caneta e papel, vejo-me num mato sem cachorro: a vontade de escrever é imediata, contudo, sem papel e a bendita caneta. Lembro-me agora que sempre que fiquei um tempo morando sozinha, logo ia ficando desleixada... com a limpeza da casa, com as refeições, com o olhar-se no espelho e gostar. Logo então buscava alguém para dividir os pequenos espaços, com o intuito egoísta – é claro, de estando com alguém, cuidar-me melhor. E assim acontecia.
Agora, realizado o grande sonho de casar-me com o homem amado e que ainda diz amar-me, vejo-me (ou ele me vê e diz) em constante estado de pré-ocupação. E ele – é óbvio, reclama: assim não está bom, aonde estão as suas risadas, conversa comigo, dá-me atenção, dá-me carinho... Eu, espantada, não sei o que dizer, só sobe um engasgo e um medo danado de ouvir um não querer...
Sinto que agora, mulher casada que sou, as preocupações giram em torno de mim, dele, e do que ainda vai nascer. Preocupo-me em terminar as coisas começadas, em fazer coisas gostosas para se comer, em ter lazer e bem-estar com o meu bem, cuidar da casa, do cachorro, das plantinhas... Preocupo-me em estudar mais para passar em um concurso melhor (menos horas trabalhadas e mais dindim) para ter mais tempo para a futura cria, preocupo-me até com o horário rígido das creches, oh meu Deus! Preocupo-me com a postura dele, e com a frase: tenho que voltar a nadar ou outra coisa. E logo me policio, não tenho que resolver tudo.
Preocupo-me em rezar mais, em meditar mais, em levar as coisas com mais leveza e sem pré-ocupações, em viver um dia de cada vez, em não temer a morte, em ser uma companhia melhor para as outras pessoas, em ler coisas que me acalmem ou que digam – você não é diferente das demais mulheres, suas preocupações são insignificantes, você é legal, o universo conspira a seu favor.
“e no meio do caminho da minha vida, encontrei-me por uma selva escura, pois a via reta era perdida...”