A chegada em Ouro Preto.
Era janeiro de 1988, daqueles "janeiros" que aconteciam de Ouro Preto chover todos os dias, tanto que a cidade ficava parecendo que iria desmanchar, tal o volume da água que descia pelas encostas escorrendo nas ladeiras, causando um impacto belo mas um pouco assustador.
Assim ao chegar, e tentar fazer uma curva, descendo perto da ponte seca no Rosário, meu fusquinha azul caiçara ano de 1973,bom dizer que foi comprado em dezembro, então era quase um 74(não sei se melhora meu status de recém formado, mas vale ressaltar) entendo se alguém ainda por desdém retrucar.
-Um fusca né?
-Sim. Eu diria.
Prosseguindo com o acontecido, ele literalmente entalou,e para quem não conhece Ouro Preto, entendam que as ruas não eram feitas para transito de carros, convido a conhecer, mas sugiro, apesar de ter que subir e descer, tendo um bom preparo físico, ao leitor fazer, como é interessante em qualquer lugar, a caminhar sem pressa.Assim o carro ficou suspenso no ar, pois levando em conta que eu estava ainda aprendendo dirigir em Ouro Preto, ressaltando que não é nada fácil se acostumar a dirigir nas ladeiras e ruazinhas que com dificuldade, passa um carro por vez, e foi com certo constrangimento que tive que descer do "possante" e solicitar ajuda para me tirar daquela situação de dificuldade.
Chovia muito, chuva fina constante, que só quem conhece pode entender,desta forma com muito custo consegui um prestativo morador da cidade, que ao fazer peso sobre a roda traseira do fusca, pudesse finalmente chegar ao meu destino, bem próximo daquele local.
Era uma casa pequena que iria dividir com outro colega médico, que me lembro que se chamava Vinícius. Um sujeito estranho, que tinha mania de dizer que fazia viagens astrais, e que conversava com extra terrestres, foi uma aventura a convivência com ele,que afirmava que estava desenvolvendo uma teoria que mudaria o futuro da humanidade, durou pouco esta aventura, pois ele acabou indo embora de Ouro Preto, dizia que a cidade possuía uma energia pesada, por ter sido palco de muito sofrimento de escravos. Nunca mais ouvi falar dele, e como dividia o mesmo espaço e iniciando na profissão e na cidade, eu era obrigado a pelo menos ouvir as estórias e previsões feitas por este colega.
Ao chegar finalmente em casa,naquela tarde chuvosa, após oito horas viajando em um fusquinha, respirei fundo e pensei:
-Será que meu futuro é nesta cidade de casas antigas, de tanta História,cheia de ladeira, que quando chove, parece cachoeira?