Criança não mente
A infância, para mim, é um período da nossa vida onde prevalecem as coisas verdadeiras .Não há possibilidade de hipocrisia ou fingimento, que infelizmente habitam, com muita frequência, o mundo dos adultos. Ou seja, a criança é um ser verdadeiro; ela não possui a atração pela mentira, que tanto nos seduz quando a inocência acaba. Embora, há quem defenda que a criança pode despertar interesse em criar fantasia , aproximando sua imaginação daquilo que classificamos como pura realidade.Outros, afirmam categoricamente que , sim , a criança mente .Especulações sobre psicologia infantil, à parte.Eu vou me reportar aos meus tempos de criança e relembrar um fato que considero importante, e que acredito ter me influenciado a chegar a essa conclusão- como também, a me comprometer com qualquer situação que eu considere verdadeira.Bom,seria muita pretensão ou no mínimo uma atitude autoelogiosa , dizer que no meu dia-a-dia, eu sempre esteja ao lado da verdade. Mas tenho consciência da sua relevância- a verdade- em se tratando do caráter e da evolução moral de todos os indivíduos. E esse acontecimento , trata exatamente da relação criança x adulto-verdade x mentira . Foi assim. Eu tinha 6 anos de idade e estava acompanhado do meu pai e do meu tio. Vínhamos de uma pequena propriedade que ele ( meu pai) havia comprado. O percurso , do sítio até o lugar onde morávamos, era em torno de quatro quilômetros . já era final da tarde. Com a chegada da noite, caminhávamos devagar. E em uma curva da estrada, nos deparamos com um homem caído ao chão. O homem estava sem camisa e era de baixa estatura. Meu pai aproximou-se do homem caído , observando-o, e com jeito tranquilo,falou: “tá bêbado’. Meu tio comentou: “esse pessoal bebe e fica caindo pelas estradas”.É evidente que eles agiram dessa forma para me poupar ,na verdade o homem estava morto, fora assassinado. E seguimos.Trezentos metros adiante ,encontramos um homem alto , forte, usava um terno preto, e falava pausadamente. Era um delegado de polícia .Ele disse que aconteceu um assassinato naquela localidade “.Um homem foi morto aqui perto” -disse o delegado - olhando firme para o meu pai e perguntou: “ os senhores viram algum homem caído na estrada”? Meu pai disse que não tinha visto nada. Meu tio teve o mesma opinião. Aí eu intervindo, falei: “eu vi, ele tá ali, logo depois daquela curva. O delegado olhou para os dois e com um jeito desconfortável, disse: “ criança não mente”. Meu pai, meio sem graça, disse: “ é doutor, a gente não quer se envolver com essas coisas , é complicado, o senhor sabe, né?” O delegado , compreensível àquele comportamento, conveniente, disse: ” é, tudo bem”.E continuamos a caminhada.