SEM PREOCUPAÇÕES
A mania de especialistas parece ser uma marca do nosso tempo. Ou dos consultores. Qualquer crise anunciada e chovem especialistas a opinar, sejam sobre a crise no Egito, adolescentes rebeldes, recém-nascidos chorões ou os papagaios em extinsão de alguma floresta de Sumatra. Ou consultores a opinar sobre a maneira como as roupas devem ser dispostas nos armários, como acomodar os fios de cabelo ao longo do crânio e por aí vai.
Parece haver, de nossa parte, a necessidade de transferir tarefas para que nos sintamos confortáveis, confiantes e, às vezes, até soberbos por sermos auxiliados por algum “especialista/consultor”. Quer abdicar de acompanhar a vida escolar do filho? Se ele estuda numa escola particular, basta que você se di$ponha e a instituição te arruma a $olução.
Talvez por morar em São Paulo, cidade onde o setor de serviços é o forte da economia, eu ache esse fenômeno mais escancarado; arrisco-me imaginar que seja uma tendência mais que um “modismo”. Ou não? De toda maneira, na minha ótica, a coisa é esquisita! Imagine você sendo comunicado da morte de um parente por algum médico de ar insípido e, ato contínuo, surja um papa-defuntos moderno sem aquela indumentária de filme antigo, mas sim num terno modernoso e com um discurso recheado de pérolas retiradas de algum manual/bíblia escrito por um especialista no ramo de consultoria sobre o mercado de cadáveres, tentando convencê-lo das vantagens de despachar o defunto/parente dessa para o túmulo utilizando os serviços profissionais da empresa por ele representada?
Caso haja por aí um especialista/consultor em como escrever crônicas de maneira decente ou em como desenvolver talento (risos), não me procure, pois vou defender minhas idiossincrasias com unhas e dentes.