CHUVA
Quando acordei hoje percebi o quanto estava cansada de chover. A chuva pode não ser perceptível a quem está ao meu lado, mas por dentro, acordo inundada. Tem dias que a chuva é tanta ao ir para a cama que me vejo em meio a tempestades e raios. Os trovões não me incomodam, mas tenho pavor dos raios. São descargas de fúria do meu céu que parecem me atingir em cheio, no peito. E é quando todos adormecem que minha chuva aumenta. Ou talvez ela já era grande e só percebo sua intensidade quando o resto do mundo silencia. Como anseio pelo silêncio em mim. Sem murmúrios, sem gritos, sem vozes, sem chuvas. Apenas o silêncio. Dizem que esse só chega com a morte, mas já morri tantas vezes! Por que ainda não ouço o meu silêncio? Quantas mortes serão necessárias ainda até que o silêncio seja pleno? Até quando vou dar conta de ressuscitar e voltar a caminhar?
Em minhas análises sobre as mortes que já tive, percebo que sempre retorno mais fraca, necessitando de mais esforço para renascer. Agora sinto dificuldade até em levantar e caso consiga, terei que reaprender a andar. Não. Preciso antes aprender a me equilibrar novamente. Voltar a dar passos é algo que ainda está distante da minha realidade chuvosa e cinzenta. Só sei que me acostumei com a chuva e agora sou sua amante. Minhas vestimentas se resumem em capas e galochas. As nuvens me fascinam e me transportam, em suas formas de algodão, para o fundo do meu chão. Não sei mais se quero a luz do dia.