Retratos da cidade, IV
Do meu morar até a cidade, não dá para ouvir uma canção sequer. Logo, o som que adoro fica para uma outra vez, escondido no porta-malas do carro e chego ao centro da cidade que eu tanto amo. Um monte de gente, que chora, sente fome e ri da vida. Carro mal estacionado, vou à procura de trincas para minhas portas – e encontro exatamente o que eu queria. Logo acho girassóis de pano, lindos, pra varandinha, onde a Lua eu gosto de vislumbrar, lá de onde mora o arco iris, onde ela nasce... Um patinho azul, três vestidos de verão, um pra mim e dois pra minha irmã. Para ajudar aquela senhora, de quem eu muito gosto, compro três pares de brincos: um de Lua, outro de Lua e outro: de Lua.
Foi decidido, pelo dono da loja, dispensar o trabalho do locutor. Ele só fazia um barulho infernal e quem quer comprar... compra! Meus pés doem... De chinelos de dedos da moda... Quase uma da tarde, que fome! Tontinha, parecendo mais um ET na cidade, nem vejo mais nada: mas enxergo, ainda, aquele homem sozinho, da Banca de Revistas. Ele mudou a flor que a enfeita: uma samambaia verdinha, sobrevive ao caos de asfalto, óleo, fome, dor, mendicância, bem no meio da ilha...
Jan13,2007