Quando eu fico entalada...

 

 

Às vezes, depois de uma viagem como passageira eu fico meio entalada para sair do carro e de farra começo a gemer ai, ai... Ou quando passo algum tempo no sofá e vou levantar, parece que as pernas emperram, ai, ai... Já contei que ando enferrujada... Nessas horas, infalivelmente, me lembro de duas cenas. Uma delas é de uma tia velhinha, já falecida. Um dia, enquanto esperava que ela entrasse no banco de trás do carro, ela ficou ali sem saber o que fazer. Eu a posicionei de costas, mas ela se virou, olhou bem para a frente e não teve dúvidas. Inclinou-se e entrou engatinhando. Depois, rindo e feliz da vida se ajeitou, nem sei como... A outra é de um sobrinho que na época tinha uns quatro ou cinco anos e passava o dia conosco. Eu ainda não tinha filhos, então arranjei-lhe uma dessas cadeirinhas de criança para que ele comesse e desenhasse ali na mesinha da sala. Mas criança não tem parada, a todo instante ele se levantava e ia atrás de mim para mostrar algo ou contar alguma coisa. Na volta, assim que sentava, ele dava um suspiro fundo dizendo ai... como se estivesse muito cansado. Achei estranho, fiquei observando e a cena se repetiu umas duzentas vezes, embora sua aparência estivesse perfeitamente normal e saudável. Só quando fui entregá-lo aos pais é que descobri o mistério. Tanto meu irmão como a cunhada davam esse mesmo suspiro todas as vezes que se sentavam no sofá... Decerto andavam bem estressados.