FECHADO PRA BALANÇO
Muito comum você ver no inicio do ano novo, bem nos primórdios de janeiro essa placa com os dizeres: “fechado pra balanço”.
Os comerciantes, descem as portas e vão conferir os estoques e depois verificar cuidadosamente item por item, o que foi comprado durante o ano anterior, o que foi vendido e assim aquela clássica continha, sob a luz da ciência contábil, saldo inicial, mais entradas, menos saídas = Estoque atual. Se não conferir com o apurado ... E assim, mesmo que a conta bancária esteja recheada e todos os compromissos estejam sob controle, alguns cânceres terão que ser extirpados.
Óbvio que estou falando aqui de uma praxe que está em extinção pela eficiência que temos hoje com a implantação de controles sofisticados em computadores de ultima geração, além das câmeras de filmagem que nos possibilitam constante vigilância do patrimônio empresarial, mesmo porque a eficiência e a logística do comercio atual, sugerem estoques pequenos, giro rápido e a especificidade que embrulhou com crueldade toda aquela filosofia de empório, contrariando a lógica da diversificação que garante ainda hoje, a saúde e a segurança de qualquer negócio.
Já na administração pública nem é preciso um balanço, a não ser o da nossa própria consciência, que somos maus eleitores e ao mesmo tempo corruptores, nas propinas aos guardas de esquinas e como “vencedores” de concorrências públicas e experts em sonegação. Falar nisso pra que, né? E estragar o natal de muita gente que atualmente por exemplo, vive da industria de vender e/ou comprar renovações de carteiras de motoristas?
Você conhece algum pra usar ou pra denunciar?
Fácil deduzir portanto que o câncer na administração pública está em estado avançado e sempre com a nossa conivência no voto e no comportamento. Quando a consciência dói muito, a morfina é a certeza do perdão divino. Os indultos de natal, custam muito barato e geralmente são generosamente distribuídos em forma de cestas básicas, roupas velhas, brinquedos encostados ou até mesmo um polpudo cheque para pagamento de um dizimo aconchegante. Problema resolvido numa boa, eis a consciência do pobre Brasileiro que pensa que pode comprar tudo com “boas ações”.
O problema é saber se realmente o olho de Tandera existe e existindo mesmo, é de se supor que fique pior.
Mas e nas outras questões da vida particular, tudo estaria na mesma ordem? Suas ações na bolsa de valores humanos estariam bem cotadas ou despencaram nos últimos tempos?
Você se considera um cara dinâmico, produtivo, útil ou é daqueles que pega um banquinho e fica sentado o tempo todo na porta de sua casa olhando pro tempo e somente se levanta pra ir ao banco receber aquela aposentadoria? No emprego, num cargo de chefia, você se considera Justo? Não comete arbitrariedades, não aplica de forma irresponsável a fábula do soldadinho e da cabrita?
Ou estaria escorado em algum emprego público nomeado por um amigo ou parente, onde não faz nada e nem poderia fazer porque nem saberia? E sua consciência acusa ou você é do tipo To nem aí?
Ou você ainda é daquele tipo de jovem que escora no dinheiro do “velho” sabendo que um dia vai sobrar tudo pra você?
Ou seria ainda aquele camaleão que muda de cor de acordo com as suas conveniências e quando perde o respeito pelos mais velhos adota a cor que "der na telha"?
Nosso balanço geral portanto, é mais complicado. Nossa demonstração de Lucros & Perdas é mais sofisticada e pelo fato de sermos vigilantes de nós mesmos, essa é a mais difícil tarefa do ser humano. Avaliar os amigos a curto prazo, conservar aqueles à médio prazo e investir pesado naqueles à longo prazo e transferi-los para o ativo imobilizado sem depreciação acelerada.
Os itens do ativo são de uma variedade muito grande e de pesos diferenciados. Você pode ter um estoque muito grande de virtudes, mas pode durante um período ter esquecido de alguns códigos de ética e quando você fizer um balanço geral de sua vida, você pode se assustar com as suas reservas morais no vermelho.
O seu livro Razão chama-se consciência e as contas de débito e crédito não vão fechar. Você mesmo vai ter que apurar as diferenças, e encontra-las não será fácil. Na análise das contas de apuração de resultados, você pode concluir que se tornou com o tempo, amargoso, um produto mal acabado, de segunda qualidade. Uma loja suja de graxa dessas de postos de gasolina de interior, sem cuidados.
Mas acredite, ninguém vive somente desse ingrediente complicado e distorcido pelas intempéries da modernidade ou da conveniência dos números impregnados em cédulas que a gente chama de dinheiro. O seu ativo disponível em banco estiver com saldo precário, seu grau de stress vai atingir uma temperatura perigosa. Como está seu estoque de amigos? Mais entradas que saídas? Se for assim tudo bem. E o estoque de inimigos? Esse, se houver crescido muito trate logo de fazer um estorno.
Quantas vezes no ano, você elogiou, agradeceu, reconheceu seu erro, ou quantas vezes você foi capaz de pedir desculpas. E a coragem para dizer a verdade na cara, olhando nos olhos, enfrentando um questionamento difícil.?
Na empresa chamada vida & Cia, você pode estar num grupo de ativo imobilizado muito perigoso, chamado semoventes e dependendo da data de aquisição e uso, sua depreciação já pode acusar que você não tem mais utilidade e está obsoleto e portanto prestes a ser “baixado” e transferido para a conta de resultados. Vai estar demonstrado então que você não cuidou adequadamente da manutenção.
Por quantas vezes você foi capaz de apanhar, cair no chão, agüentar o tranco, como se diz, sacudir a poeira e se reerguer?
Por quantas vezes você teve a coragem de dizer: Foda-se, dane-se, faça como quiser, a minha consciência está tranqüila. E as suas coisas mal resolvidas, o estoque desse ano cresceu ou diminuiu? E os que você não resolveu foi por causa de tempo, incapacidade ou por falta de dinheiro? Ou você sequer tem consciência de qual motivo seja?
Sua vida amorosa, sua intimidade, seu carinho com a família, com as pessoas que você quer bem, qual a situação? Nesse ano que passou, você ficou sentado vendo o tempo passar ou agitou? Passou em frente a uma floricultura e levou um “bouquet” de rosas pra casa, sem mais nem menos, quantas vezes? Parou em frente a uma confeitaria e lembrou-se de que sua mulher ou sua filha, gostam de quindim, por exemplo, comprou e fez uma surpresa? Quantas vezes você disse bom dia ao telefone, ou num elevador ou na porta de casa cruzando com um vizinho?
Você é capaz ainda de arrumar um tempinho pra engraxar seu próprio sapato? Você tem paciência para desmontar uma cadeira velha, e você mesmo consertá-la, colar as peças, lixar e passar um verniz? Ou é daqueles práticos e objetivos que fazem logo a conta do “custo beneficio”, sugerido pela maldição do capitalismo selvagem, joga logo fora e compra uma nova?
E alguém mais elitista ou mais “espinhoso” pode estar imaginando façanhas mais espetaculares, como uma viagem internacional para Buenos Ayres, dançando um tango no “La Bocca”, ou fazer compras no Lafayette em Paris, ou conhecer Cancun num cruzeiro marítimo num transatlântico de luxo ou realizar o sonho de comprar um charuto Cubano em Havana nas barbas de Fidel, ou dançar como um Grego, na Grécia dos sonhos de Antony Queen.
Bom, muito bom. Sinal que seu estoque de dinheiro e vaidades está ou estava alta e que você estava tentando ser feliz, ou mais feliz. Pode distribuir cartões de visita e se sentir importante através deles. Coisa de garotos “bad boy” ou de ricos pedantes.
Se você leu tudo isso aqui e gostou das suas próprias respostas, você com certeza fez uma analise de balanços bem correta e dispõe de um bom índice de liquidez. Não corre risco de ter sua falência decretada, mesmo que seja por uma introspectiva provocada. Mas cuidado, não caia no ridículo de comprar uma foto na capa da revista Veja, estando falido. (rs).
Viram? Mais uma vez, como diz o Goiano; “num dô conta” de ser mais curto ou menos prolixo. “Pior”.
Um excelente e gordo ano de 2012 a todos promissor e pleno de realizações.
O que mais um céptico poderia dizer?
Que a fé realmente continue a mover montanhas e que o "espirito" natalino desse ano (esse que ainda vai demorar um pouco) possa ser repleto de boas ações sinceras e realmente nos comover a todos?
-Então que assim seja !!!!!! Temos dez meses para nos prepararmos e cultivarmos essa virtude dentro de nós e não tentando comprar a vida depois da morte.