ÍCARO
Qual foi o erro de Ícaro? Querer voar ou ter sido ingênuo achando que conseguiria? Nos últimos tempos ando rodeada de alusões a pássaros e vôos e isso tem me tornado bastante reflexiva acerca do assunto. Acho que todos gostariam de ter asas e sair de encontro ao vento. Antes eu tinha medo de fazer essas primeiras tentativas, que na verdade nada mais são que mergulhos no espaço que existe em mim. E aprendi a fazer uso das minhas asas (razão e sentimento) para ir de encontro ao que possuo de mais inatingível: meu verdadeiro eu, minha identidade, meu caráter e tudo que faz com que eu seja quem sou, mesmo que não aparente aos outros e também a mim mesma.
Claro que quero conseguir fazer isso sempre, mas tem dias que essas asas pesam muito ou ficam desequilibradas e então o vôo se torna perigoso. É como se caísse um temporal e as águas sobrecarregassem as penas de minhas asas que, de tão pesadas, não conseguiriam se mover na deliciosa dança no ar. Não quero cair, me machucar, correr o risco de quebrar uma dessas asas ou até mesmo ambas. Só me permito fazer essa viagem quando tenho segurança de não correr risco algum. Tolice! Voar já é um risco por si só... quem nesse mundo consegue equilibrar razão e sentimento? Seria muita arrogância minha, tal como Ícaro, achar que poderei voar livre e solta, com a maestria de um pássaro.
Mas já que ainda não consigo fazer essa viagem sem riscos, posso ao menos alar meus pensamentos e minhas emoções. Fecho meus olhos, respiro fundo, sinto o ar entrando em meus pulmões e me permito sonhar. E sonho com realizações, por mais contraditório que isso possa soar. Sonho com desejos ainda não realizados, com oportunidades que ainda não surgiram, com esperanças se concretizando, com crianças crescendo em um mundo menos egoísta e doente, com adultos repartindo sem se preocuparem com uma possível falta. Essa é a viagem que mais me apraz. E para essa viagem, não quero flutuar, quero voar...