O (Mau) Gênio de Vovô
O Gênio de Vovô
Meu avô materno era o mais carinhoso, afetuoso, gentil e o melhor dos avôs. Olhos azuis da cor do céu, brilhantes e amorosos.
Era imigrante italiano, embora dissesse que não. Dizia-se austríaco. Acontece que, quando ele nasceu, sua cidade natal, no Tirol, estava sob o domínio do Império Austro-Húngaro. Sissi era a “sua” Imperatriz – assistiu a todos os filmes da série. No seu entender, embora só falasse italiano e nem uma palavra de alemão, era, portanto austríaco. Este fato já dá uma pequena ideia da personalidade deste homem, um tanto teimoso e opiniático.
Lembro-me bem de um fato que ocorreu quando eu tinha uns dez anos, em meados dos anos 1950, em um período de propaganda eleitoral.
Vovô, embora não votasse por ser estrangeiro, interessava-se bastante por política. Lia os jornais, estava sempre bem informado – aliás, melhor que seus próprios filhos brasileiros.
Àquela época, cada candidato confeccionava suas cédulas, com seu nome, partido e cargo pretendido. Estas cédulas eram distribuídas pela cidade. No dia da eleição, o eleitor levava consigo as cédulas de seus escolhidos e, na cabine eleitoral, colocava-as dentro de um envelope, lacrava-o e depositava-o na urna.
Um domingo à tarde, estava eu com meu avô em seu jardim. Ele adorava cuidar das plantas, sobretudo amava suas roseiras. Naquele dia, estava ele a adubá-las com estrume, conforme o hábito da época.
Chega ao portão um garotinho, olha para vovô e pergunta: Moço, o senhor quer cédulas?
Vovô, já então um tanto surdo, entendeu “cétulas” e quis saber do garoto o que eram “cétulas”.
Quando por fim entendeu do que se tratava, perguntou de que candidato eram aquelas cédulas.
Ao ouvir a resposta gritou: Sai já daqui, moleque, que você vai-me sujar o esterco!!!
Lu Narbot