- Ô mãe, me explica, me ensina, me diz??!

A mangueira era mais alta que minha casa.

Eu subia pra pegar as mangas lá de cima.

Sentava num galho e comia. O caldo escorrendo pelos braços, os dentes cheios de fiapos.

Como macaco, ia de um lado para o outro. Que delícia!

Depois, agarrava a corda balanço e saltava pro chão. Vergões nos braços, calos nas mãos.

Eu não era delicada, nem bonitinha, nem precisava ser.

Meus predicados eram entender algumas palavras difíceis e saber jogar totó.

Os cabelos eram sempre curtos e andei sem camisa até lá pelos 8 anos, quando acreditei no meu pai, que jurou me matar se me encontrasse de novo "pelada na rua, no meio daquela molecada".

Hoje de manhã, olhando as minhas unhas pintadas de vermelho, o bico fino do sapato e o cabelo arrumado fiquei pensando... Onde foi, diabos, que aprendi a me arrumar assim?

Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 05/02/2012
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