A MORATORIA

A MORATORIA

A definição estava ali, bem à frente, no Aurélio: “suspensão do pagamento de uma dívida, decidida unilateralmente pelo devedor, ou negociando com o credor.” Era essa a idéia que Ari tinha enquanto lia atentamente o significado da palavra moratória no dicionário. Passou a mão na cabeça, pensou e decidiu por em prática o que estava planejando.

Todos os domingos eles se reuniam na panificadora do seu Joaquim para tomar um café e comer um pãozinho quente e aproveitar para por a conversa em dia.

Quando Ari chegou eles estavam sentados à mesa e seu Joaquim atendendo aos fregueses. Entrou e falou:

- Um minutinho, por favor. – disse Ari.

Todos olharam e ficaram aguardando.

- Devo, não nego. Pago quando puder. Estou declarando a moratória de minhas dívidas por prazo indeterminado! – disparou curto e grosso.

Seu Joaquim levou um susto e a primeira coisa que disse foi:

- Ai, Jesus!

Pedro engoliu a seco o pedaço de pão-de-queijo que comia e Jair ficou com a xícara de café na mão, parado e sem saber o que fazer. Ari tinha uma bela dívida a acertar com os dois. Logo que se recuperou do susto Pedro não se conteve e partiu para cima do devedor, que não esperou para ver o que aconteceria. Se mandou.

- Deixa eu pegar ele, só um pouquinho. Acabo com ele.

Passada a confusão, se reuniram com seu Joaquim para ver o que fariam.

- Aqui na minha padaria não pega mais nada fiado!

- Seu Joaquim, com a gente também não é diferente. Ele também nos deve uma boa quantia.

Três dias. Foi o tempo que ele ficou sumido, quando resolveu aparecer chorando as mágoas e contando os problemas que tinha. Pediu desculpas pelo transtorno e explicou a sua situação. Realmente a coisa estava fora de controle.

Depois de conversarem e ver que o que ele devia não era tanta coisa assim, decidiram perdoar as suas dívidas.

- Mas, por favor, Ari, vê se dá um jeito em sua vida, seja mais controlado.

Seu Joaquim também concordou em perdoar o que lhe devia.

Mais aliviado Ari desabafou:

- Muito obrigado mesmo. Por tudo. Estou perdoado mesmo? Não preciso pagar nada?

- Não precisa pagar nada, Ari.

- Então já que eu não preciso pagar mais nada, não poderiam me emprestar essa mesma quantia por mais algum tempo?

- Novo empréstimo? – perguntaram surpresos. Para quê?

- Como para quê? Preciso pagar as outras dívidas que tenho senão os credores me matam!!!

lmorete
Enviado por lmorete em 05/02/2012
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