CONTEMPLAÇÃO
CONTEMPLAÇÃO
Isabel C. S. Vargas
“Olhai as aves do céu, olhai os lírios do campo.”
Mt. 6, 25, 31
Manhã de domingo. Enquanto tomo um café, na cozinha de minha casa no Laranjal, olho para o pátio. Admiro os dois coqueiros que plantamos bem pequenos, cujas mudas foram trazidas de Santa Catarina e hoje estão imensos, lindos, vigorosos. Próximo a eles a flor plantada por uma amiga, além da azaléia branca, presente de um parente.
Levanto os olhos e eles batem na epígrafe que coloquei no alto deste texto, fixada em uma das paredes.
Percebo o quanto é importante nos permitirmos ter este tempo para repouso, relaxamento, reabastecimento de energias para prosseguirmos na caminhada com entusiasmo, com vontade.
Neste período de tempo destinado a nós mesmos e à contemplação, aguçamos a sensibilidade e percebemos nas pequenas coisas, as grandes obras divinas, como o beija-flor que a todos encanta com seu delicado vôo por entre as flores, as várias nuances de verde das plantas, o tom rosa do hibisco, o lilás da Hortência, o meu pequeno cão que repousa sobre os ombros de minha mãe como se fosse a gola de um casaco, o vento que faz a água executar o que parece uma dança.
Cada coisa tem sua época, cada um tem seu tempo e seu ritmo próprio, no desenvolvimento, por isto não podemos desejar nem exigir desempenhos iguais, temos que considerar cada um em separado, com suas características, suas habilidades e suas limitações.
Tenho um vaso com sinos de Natal, que pertenceram à minha sogra (já falecida há 16 anos). Geralmente, ele floresce em fevereiro, mês de seu aniversário e também de minha filha. Eles não são menos belos por desenvolverem-se mais lentamente e ainda temos a vantagem de tê-los, quando os outros já feneceram.
Há pessoas que são viciadas em trabalho, não conseguindo gozar férias sem sentirem-se culpados por isto. A legislação só normatizou o que é sabido que todo ser humano necessita para permanecer saudável, produzir melhor, evitar acidentes, respeitar as exigências do físico e mental de cada um, permitindo que os indivíduos apurem os sentidos e entrem em sintonia com o universo que os rodeia, desfrute do lazer, intensifique os momentos de prazer convivendo com os que lhe são caros.
Pode até que não existam condições financeiras para programas mais caros, viagens, mas aí é o caso de procurar opções alternativas menos dispendiosas ou permitir-se momentos de contemplação, que certamente nos depararemos com belas obras colocadas à nossa disposição de forma gratuita pela natureza.