O ENCURRALADO

O ENCURRALADO

Eu não estou infectado pelo virus maldito do mundo moderno que me induz a “nunca estar satisfeito” e buscar sempre o primeirissimo lugar e sentar a bunda no pódium das ilusões, de preferência com muita velocidade e alta dose de adrenalina. Nunca quis ser o homem mais rico do mundo e sempre valorizei meus pequenos e modestos passos ou minha fatidica e gostosa estabilidade.

Entretanto, não há dúvida alguma: Estamos ficando loucos e babacas e chegará o momento em que seremos todos rigorosamente normatizados e controlados eletrônicamente e . Mas enquanto essa fase não chega com toda a plenitude que se espera, aproveite. Um dia, o seu, o meu neto, a sua neta dirão, nossos avós eram felizes e não sabiam. Norival Caymmi levou 5 anos para compor “eu vou pra Maracangalha” e mais tres para decidir que ia levar Anália. Hoje, um desses compositores modernos, disparam dezenas de letras e músicas no estilo “sambas de uma nota só” porém sem classe, sem conteúdo e de fazer arrepiar todos aqueles que conhecem alguns códigos de ética.

A humanidade está vivendo a era da “minha culpa, minha máxima culpa”.

Sinal vermelho, sinal amarelo. Faixa branca, parada proibida, preferencial, proibido fumar, visita somente no domingo, não entre, não ultrapasse, não jogue papel higiênico no vaso, use o cinto de segurança, seu farol está queimado, seu extintor venceu. Um susto aqui, uma freada alí, com um ou uma imbecil atravessando o sinal vermelho como se fosse sua majestade, a rainha da Inglaterra.

– Senhor, diz uma criança com farda de guarda mirim, posando de adulto:

- O Senhor está com meia roda sobre a faixa branca de pedestre e assim, não está se comportando adequadamente.

-Garoto, você viu que eu tive que dar uma freada brusca por causa da “véia” distraída que avançou o sinal. Viu não?

- Não senhor.

– Eu acho que você deveria prestar mais atenção nas coisas, moleque.

- O Senhor não deveria me dispensar esse tratamento, eu estou aqui tentando ajudá-lo e a ensinar-lhe como respeitar as regras do transito.

- Eu não avancei o sinal de transito, garoto, ela sim, me impediu de passar no sinal verde e por isso estou aqui aguentando discurso de uma criança que deveria estar na escola ou em algum lugar aprendendo a respeitar os mais velhos.

(sic) E lá vem lição de moral numa inversão de valores e de funções descabidas.

Eu não acreditei no que estava ouvindo, me calei, olhei com aquela cara de quem comeu e não gostou e fui embora. Daqui uns 10 dias vou saber se fui multado, ou não.

No estacionamento, as vagas marcadas pra idosos e para os deficientes fisicos inventadas para serem desrespeitadas e vai por aí.

No comercio, a placa antiga ainda sobrevive: “Não vendemos fiado”, “não aceitamos cheques”. Nos supermercados, duas ou tres pessoas da mesma familia se espalham pelos caixas para guardar lugar e o outro que se dane.

No condomínio, não faça barulho após 22 horas, não acelere com força, respeite a velocidade máxima de 20 km.

– Mas meu senhor, 20 km. é quase parando, não dá pra fazer uma reunião e aumentar pra 30? – Tá bom deixa pra lá, já sei que você está cumprindo ordens, todo mundo cumpre ordens. E eu realmente não quero ser "Americo o reformador do mundo". Paz e amor, irmão. Mas aqui, na fila do caixa do supermercado, eu aviso em tom forte e grosso, carrinho não entra.

Vou largar tudo isso e vou com a família pra pousada descansar um pouco, pois Caldas Novas já não dá mais, aquilo lá é um esgoto a céu aberto, afinal já me disseram que eu respiro ares da Finlândia, enfim na Pousada Rio Quente, gasta-se mais, porém..., ops, cuidado com as palavras preconceituosas.

Que nada, quase me colocaram pra fora, porque eu estava jogando xadrez no corredor do hotel e o regulamento não permite, aquilo lá também está cheio de militares da reserva que não conseguiram emprego no Detran ou não tiveram coragem para montar uma loja de revenda de carros velhos roubados ou não.. Você paga caro e ficam chamando sua atenção o tempo todo. Tem também as placas “didáticas” dos ecochatos que adoram o verde da natureza. Se você pisa na grama é como se estivesse pisando no orgulho da humanidade inteira, submissa à nova doença.

Em poucas palavras, sabem dizer tudo. TUDO o que é bobagem, incluindo ou confundindo agua tratada com a reciclagem natural da agua desperdiçada no pinga pinga da torneira, mas que na verdade volta para as profundezas da terra, onde sempre fica. Portanto, conclui que, quem deixa torneira de agua pingando enquanto escovas os dentes não desperdiça agua, apenas paga a conta.

-Ta vendo, mulher?, viajamos quase 200 Quilômetros para eu ficar mais nervoso ainda e ficar fazendo discurso contra os ecochatos. Ah, desculpe estou estressado e quando voltar procurarei o Dr. Marcelo Caixeta, quem sabe, ele dá um jeito nessa minha arrogância. É isso aí, direto pra um psicanalista sem rodeios.(rsss)

Mas... já de volta e na estrada, paro no acostamento e atendo o meu celular e uma voz meiga, gentil, do outro lado da linha: Senhor é do Banco tal, mas antes de lhe oferecer nosso produto, aviso-lhe que nossa conversa está sendo gravada – Pensei, uai sô eles estão atacando agora até pelo celular?

– Moça desculpe-me interrompe-la: Então melhor desligar, porque toda semana me ligam para me oferecer o mesmo cartão que eu já tenho e se eu falar com você hoje, você vai com certeza gravar muitos palavrões. OK? De acordo? Além disso, estou muito satisfeito com o limite que tenho e posso lhe dizer que não uso 40%.

-Obrigado senhor, desculpe incomodá-lo, o Banco Itaú, agradece e lhe deseja um bom ano novo, mas antes, o sr. Poderia se dar ao trabalho de responder o questionário de atendimento? PQP, que sarna, que saco.

Atualizei meu titulo de eleitor um dia desses, num tal “vap-vupt” e cada funcionário que falava comigo (uns dez) pediam para apertar o botãozinho de classificação de atendimento.

Antes, podíamos tudo, hoje não podemos nada. Sou um pobre cidadão, que já levou um pescoção na cara, por um gorila do Castelo Branco em 64 em frente o Cine Brasil na praça Sete em BH e eu nem sabia o que era comunismo, não sabia sequer que a Dilma existia e que um dia eu teria que trata-la por sua Excia. a presidenta do Brasil.. Agora livre do verde oliva, sou prisioneiro de regras e normas exageradas, arbitrárias, que ferem o meu direito individual de ir e vir e dirigir e nada posso fazer.

Não sei se canto, “pra não dizer que não falei das flores” do impostor e mercenário Geraldo Vandré ou se choro aquela pasmaceira, “meu Brasil, meu Brasil, eu te amo, ninguém segura a juventude do Brasil”.

No fundo eu acho mesmo, que os portadores de fardas, hoje transformados em pequenas autoridades, estão se vingando da gente, impondo pequenas regrinhas para infernizar nosso dia a dia. Um dia os Brasileiros lerão aquele slogan famoso da ditadura militar – “Brasil, ame-o ou deixe-o” que estará impresso em todos os certificados de propriedade de veiculos, carteira de motoristas e nas faixas brancas e placas sinalizadoras.

E assim, como dizia o meu inspirado amigo Chico Anízio (nada de Mendes ou Xavier, pra não complicar) “Eu sou o Bento Carneiro, o vampiro Brasileiro e minha vingança será maligna”. Só não consigo imaginar como. (rsss)

Mas tudo isso passou, hoje sou um cara alegre, feliz, um pequeno burguez e até me chamam de elite do grupo burguesia, classe média, essas coisas e assim, fico meditando os hábitos do novo milênio, do pobre povo Brasileiro, que se intitula em seu complexo de inferioridade de terceiro mundo. Claro, o nosso ex-presidente diz que foi “gostoso” governar. Eu pessoalmente acho que ele ficou devendo muita coisa como uma reforma agrária ampla e sem enrolação e a reforma politica, onde as cartas tenham que estar na mesa, sem votação secreta por exemplo.

E assim, consolidando esse pensamento tupiniquim globalizado, na pescaria, temos que levar uma balança e uma fita métrica. Pescar, devolver e ser feliz. Em em terras onde os indios moram, nem pense em entrar, porque eles agora estão ressucitando. Acho que vão dominar o que resta de florestas no Brasil. É a doce vingança contra os colonizadores. No proximo milênio, vamos invadir Portugal com arco e flexa e vamos varrer aquele paizinho insignificante da costa da Europa.

E com a consciência de que estamos na luta para proteger o meio ambiente, ficamos ali, sentados horas e horas, na canoa, no barco e quando finalmente fisgamos aquele peixe enorme, vem o complexo de culpa. Passamos nossas mãos e em suas barbatanas, em seu dorso, olhamos para os seus olhos com um brilho triste e semi-opaco e o devolvemos ao seu habitat natural e voltamos pra casa, com a sensação do dever cumprido. A cartilha do Pardido Verde, embora eu não tenha mesmo vontade de votar em Marina, estará sempre ali no cantinho da minha vida, me alertando, me lembrando, cuidado com a natureza e agora em pleno seculo 21, cuidado com as flexadas dos indios todo-poderosos.

Alardeamos o fato de que não deixamos um saquinho de plástico à beira do rio e assim não corremos o risco de nos tornarmos assassinos de uma vaca leiteira. Bobagem, você se arrepia todo por causa de uma saquinho de plastico, compra uma sacola ecológica e enche a dita cuja de pequenas compras, todas elas embaladas com plasticos. Estão gozando a minha cara?

Copos descartáveis, de tanto assistir programas políticos do partido verde, eu nem jogo fora mais, lavo todos eles com água e sabão e os reutilizo(Rsss). Fico com medo que alguns daqueles que eu tenha usado, possa ser identificado no futuro deserto amazônico, ou aqui no cerrado Goiano, com um sistema de busca avançado para encontrar digitais, descubram por ali que fui eu um dos causadores de todo estrago que está por vir e que os terroristas portadores de bíblia já preconizaram como fim do mundo. E aqueles filhotes de papagaio no alto daquela árvore, são tão lindos, eu poderia levar um pra casa e ensiná-lo a cantar aquela musica: “eu era um bêbado e vivia drogaaado, mas encontrei Jesus”. Desisti, numa dessas eu posso ser preso e ser considerado mais perigoso e mais bandido do que o Fernandinho Beira Mar e sem direito à fiança pelo cativeiro do pobre bichinho.

Portanto, bola verde pra mim !!! Eu faço uma confusão mental com esse partido verde da Marina. Não sei se é o tal verde ecologico ou se é aquele verde “anaué” do Plinio Salgado. Acho que estou sendo transformado em um zumbi ecologicamente correto. Já cheguei ao ponto de comprar um bafometro pra meu uso particular e quando eu iniciar os meus delirios, eu mesmo me testo.

Elegemos políticos para que, depois da posse dêem demonstração de força. Isso não pode, aquilo também não pode. Velocidade máxima 80 e os fiscais arrecadadores ficam ali escondidos entre moitas com radares precisos e eis que de repente, alguém fardado ergue as mãos e lhe dá ordens incontinentes para que você pare. Discurso, multa, punição administrativa para iniciar um processo de lhe cassar o sagrado direito adquirido de ir e vir, de preferência dirigindo um veiculo motorizado. A carteira, minha carteira foi embora, esqueci-me de que a pontuação estava além do permitido. Eles ficam rindo como se estivessem assistindo um programa do Jô. Sabem e percebem o grau de humilhação que nos impõem, sabem que pagamos o seu salário e tiram sarro emitindo aquela maldita notificação, com a consciência do dever cumprido, mas sabedores de que ao executarem essas tarefas apenas quando lhes convém, quando lhes dá na cabeça, tornam essa ação tecnicamente injusta.

Fiquei pensando, ele deve estar indignado porque comprei a caminhonete com isenção de IPI e ele sequer consegue sonegar o imposto de renda que lhe descontam na fonte. Mas em compensação ele tem aposentadoria integral e nós pobres civis, pagamos a vida inteira sobre 10, 20, 50, 80 salários mínimos e aposentamos apenas com um.

Mas... meu amigo

-Não tem mais nem menos, assine aqui, mas o senhor tem o direito de recusar assinar, pois pela lei não pode gerar provas contra si próprio.

-Não, de forma alguma, imagina, passe a notificação que eu assino, pois não quero nesse momento chamá-lo de mentiroso. O Senhor Pode me prender por desacato a autoridade, não é?

-Pensando bem, o Senhor tem razão, não é uma má idéia. Mas o Senhor tem cara de gente boa, pode ir embora.

-Obrigado, o sr. é muito compreensível, sr. guarda e, por favor, releve qualquer gesto, palavra ou atitude minha, pois fiquei assustado.

Pus o pé na estrada e fiquei imaginando que ele (o guarda) pudesse ter me interpretado mal de forma a lhe ter dado margem para que se arrependesse de ter me concedido a honra de ser liberado pelas suas mãos, num jogo de cintura e sem propina. Talvez se eu tivesse lhe pedido um autografo e até tirado uma foto, ficasse melhor e a minha consciencia de motorista não pesasse tanto mas estou constrangido diante do fato de que isso poderia ser interpretado de outra maneira e não vou voltar lá, vou memso é seguir em frente..

Até aí tudo bem, mas de tanto disfarçar meu nervosismo, paro minha possante caminhonete 10 km à frente e me dirijo a uma arvore bonita e frondosa para esvaziar a bexiga ou falando rasgado, fazer um xixi. Afinal estou me restabelecendo de uma prostatite e ainda tenho que correr pra tirar a agua do joelho e fui.

Minha mulher apavorada desce do carro e diz:

- Pelo amor de Deus, não judie da arvore, ela pode morrer sob o efeito nocivo e venenoso de sua urina e alguém pode estar vendo, anota a placa do nosso carro e faz uma denuncia pra um fiscal do IBAMA, você vai preso, como se estivesse torturando uma maritaca, ou cantando musica do Nelson Gonçalves.

- Mas mulher, estamos no meio do mato, já fiz isso tantas vezes nas goiabeiras lá do Passa cinco em Ponte Nova, quando ia passear com o Sr. Pepedro Catarino, e tenho até saudades daquelas porteiras de fazenda, onde se lia em todas elas “Casas Pernambucanas”, onde todos compram, etc

-Onde foi isso?

- deixa pra lá, mulher, hoje o nome daquilo lá é reserva florestal e já construiram lá um enorme presídio à prova de fogo que pode servir de exemplo pro resto do Brasil, ou seja, bandido pé de chinelo tem que ficar preso é na sua própria cidade e de preferência próximo a rios e represas, pois quando houver incêndio fica fácil apagar.

- Mas você disse presidio à prova de fogo.

- Eu disse isso? Deixa isso prá lá, mulher.

-Tudo bem, vou direcionar meu fraco e nervoso jato, a essa indefesa cerca de arame farpado, afinal, ninguém gosta de cercas assim. Elas foram repudiadas naquele famoso filme, “os Brutos também amam”, lembra? – Não, nunca assisti esse filme. – Mulher, deixa isso pra lá também.

-De jeito algum, esse ácido úrico, pode causar estragos no metal da cerca que pode não ser de boa qualidade, e vai que um pobre passarinho pousa, gruda as patinhas e morre de fome e solidão?

-Está bem, vou parar num próximo posto de gasolina e espero que não esteja muito longe mas, desculpe a pergunta, você por acaso, anda lendo muito aquele blog do Ronaldo?

Parei no posto, resolvi meu problema e como sempre, nada de sabonete, a torneira não tinha água e nem toalha de papel. Não havia lá ninguém dos Direitos humanos, nem do partido verde e sequer um filho de uma égua de um fiscal da vigilancia sanitária. Mas refleti bem e preferi deixar prá lá, afinal mesmo quando viajo num 747 a gente vê o desrespeito a Lei. – Um unico banheiro para homens, mulheres, gays e lésbicas. O certo seria... Engraçado mesmo e “gostoso” é ouvir a voz da aeromoça reproduzindo em bom portugues todas aquelas regras de segurança e depois a gente ouve tudo de novo em Ingles. Será que sempre tem um gringo Norte Americano dentro da porra do avião que viajo? Porque eles não recitam aquela merda em mandarim, em frances, em castelhano, porque ai a sacanagem fica completa. Mas isso é muito pouco perto dos filmes de Tarzan que eu assistia quando pequeno e o cipó não arrebentava nunca.

-Só pra sacanear o cara do restaurante de posto, pedi um cafezinho, porque sei que é grátis. Engano meu, naquele posto, eles cobravam até o cafezinho.

Mas saí que nem aquele ex-católico, um evangélico feliz que ama Jesus, até na plena desgraça e assim aprendi que a gente deve agradecer por tudo de ruim que não acontece com a gente, pois reclamar é coisa de gente enjoada e ultrapassada e estressada. A ordem é seja feliz, alegre, sempre e principalmente obediente e se amputarem uma perna sua, agradeça ao “Senhor” porque ficou com a outra.

Melhor mesmo então é ser feliz. Agradecer sempre, pedir sempre, como um cordeirinho. Pensei até em chegar à Capital e mandar fazer um daqueles adesivos românticos, pra mostrar que sou um cordeiro exemplar: “comprado por mim, guiado por mim e quitado por Jesus”.

Uai sô, depois dessa mudança brusca que fizeram na oração Pai nosso que estais no céu, perdoai as nossas ofensas (dividas) assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido (devedores). Descobri que foi aí que a igreja católica parou de ser a causadora direta da inadimplência, e talvez tenha sido lobbie das Casas Bahia (rss).

Posto isto e mais aquilo, resolvi seguir viagem e descobri que havia guardado uns CDS de musicas antigas (sou colecionador e apreciador, não pensem que vivo somente de reclamar da vida, tenho meus momentos de ternura).

Enfiei o CD e ainda no estacionamento do posto, com o volume bem alto, (foi sem querer) e toca aquela música de autoria do Rubens Soares e David Nasser – “Nega do Cabelo duro”. E na seqüência, o refrão: “qual é o pente que te penteia, qual é o pente que te penteia”. Mas pra que?

Minha mulher me deu uma dura de novo e o frentista do posto, já tava me olhando atravessado. Acelerei, e me mandei e pra não ficar com aquilo na minha consciência, pressionei o teclado e me vem aquela marchinha de carnaval:

“Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é”.

Minha mulher de novo, com ar de delegada me ameaça:

- Amor, estamos chegando, desligue essa música, você não está vendo que estamos no meio de uma parada gay e vai que alguém escuta isso lá fora, a polícia vem e prende a gente pela prática escancarada de homofobia, desliga, desliga logo isso aí.

Fiquei meio receoso, mas logo depois me lembrei que eu tinha sim, um amigo gay chamado Calcinha e quem sabe, ele estando ali no meio, com certeza me ajudaria.

Pronto, silencio total, passei pelo desfile e nem olhei para não fazer aquela cara de zombaria, de ironia mesmo, pois quando eu era criança lá em Ponte Nova, eu chamava essas meninas é de Viado mesmo, mas parece que hoje é ofensa e você até pode ser preso. Por isso estou deixando bem claro, eu não escrevi Viado aqui agora, refletindo meu atual estado de espírito, estou apenas contando o que eu fazia quando criança e assim, acho que não posso ser preso, pois Leis pelo que sei, ainda não têm efeito retroativo, né? Ainda bem que os advogados e promotores sabem disso. Mas enfim, olhei, olhei e não vi meu amgio “calcinha”.

Minha mulher de novo: Você é que pensa que Lei não retroage: O Negro Job, vereador de Goiânia, não conseguiu sacramentar em nossa capital, o dia da consciência negra como feriado, mas já está pensando em encaminhar ao congresso uma Lei, para que todos os descendentes de fazendeiros e plantadores de cana e café sejam julgados e condenados a pagar indenização aos afro-descendentes..., - Fiquei preocupado com essa noticia mas nisso, ouço uma voz que diz:

- “hei, você aí, me dá um dinheiro aí... não vai dar, não vai dar não, você vai ver que grande confusão...

“Minha mulher me cutuca de novo e me diz com aquele ar sem graça, - “Não é o seu CD antigo, preconceituoso, é um assalto mesmo”, o cara ta lá fora com o revolver apontado pra sua cabeça”.

-Levou meu dinheiro e gentilmente me devolveu os documentos, jogando no chão, claro.

E no dia seguinte, no sinal de transito, começou tudo de novo:

- “Tio, vai uma cocada bahiana, aí, baratinho tio, embaladinha, me ajuda”