SAUDADE E SAUDOSISMO...

Por Carlos Sena  


SAUDADE E SAUDOSISMO...





Não defendo o saudosismo, mas a saudade. Não se vive sem ela, a menos que alguém possa viver sem passado. Não existe passado? Até concordo, mas sendo prático, a gente está presa aos três tempos que norteiam a existência, mesmo sabendo que podemos ter visões diferentes deles, dentro de uma ótica “filosÓTICA”. Por isto não COMPREENDO quem vive NO SAUDOSISMO, pois as gerações têm seus encantos. Sentir saudades pode até ser uma forma “filosótica” de tri dimensionar a vida. Lembrar-se do que foi bom é ótimo, pois nos ajuda a compreender certos movimentos da vida que se vive noutro tempo, noutra época. A convivência com a chamada geração “Y” deixa algumas pessoas muito recalcitrantes como que se contrapondo a juventude que aí está e que é linda e que tem muita coisa boa. Certo que é meio perdida, mas haverá um tempo deles se acharem, como nós, da chamada geração “X” um dia nos achamos. Na verdade ninguém nasce crescido, nem achado em tudo. A vida por si mesma se encarrega disto, embora saibamos que há valores que estejam sublimados e outros subestimados nesta atual geração, mas haveremos de compreender o contexto. Ter saudades neste contexto é complexo, mas vale a pena compreender no foco que deixe o saudosismo distante dele. 

O saudosismo na forma colocada talvez represente um pouco do que se foi sem nunca ter sido. Explico: quem viveu tudo que teve direito, inclusive na lógica do erro e do acerto, dificilmente se torna um saudosista. Talvez saudosista sejam todos aqueles que, amordaçados pela falsa moral, deixaram de serem felizes por vários motivos. Isto é que nos parece levar indivíduos a serem amargos. A amargura, geralmente é proveniente de passados sofridos por incompetência “gerencial” de quem foi incapaz de não viver dentro da normalidade estabelecida pela sociedade. Dificilmente se é feliz sendo normal. Contudo não ser normal não significa ser contrário aos socialmente estabelecido, mas estabelecer metas particulares que rompam com algumas estruturas de poder e domínio. Assim, o saudosista está permanentemente se ligando no passado. O mínimo gesto está intimamente associado ao que um dia foi bom. Os idosos bem resolvidos interagem muito bem com estes novos tempos. Sabem inclusive que não têm intimidade com a internet, por exemplo, mas tem certeza de que os que dominam as tecnologias modernas (no geral) são frágeis, tem pouca consistência formal do mundo e da vida e das pessoas. Os idosos, ou os coroas de hoje, sabem do valor que têm e não se sentem alijados pela geração “Y”. São esses via de regra, os que não são saudosistas. Vivem o tempo de hoje como sendo o seu tempo. Da mesma forma que os legítimos representantes da geração “Y” dificilmente serão saudosistas, desde que sejam felizes hoje com tudo que tem direito.

O saudosismo, desta forma, representa mais processo de passado mal resolvido, do que um compêndio de saudades do que um dia foi vivido. A rigor, não há tempo tri dimensional, dentro da visão de filosótica, posto que dentro de nós existem os “três tempos” convivendo nem sempre harmonicamente. Fora de nós está o ano como componente do século e do milênio. Dentro de cada um isto é relativo. Há jovens que mais parecem velhos e velhos que mais parecem jovens. Neste sentido, a geração “Y” tem algo que entendo como encantador: a praticidade! A “X” nem sempre foi assim, nem será mais neste contexto de modernidade. Mas isto são as trocas entre as pessoas de diferentes passados, mas convivendo num mesmo presente. 

Concluindo essa prosa “sabática”, confesso que tenho muitas saudades dos meus tempos de criança. Do subir e descer ladeiras na minha nem mais tão pequenina Bom Conselho-PE. Acreditem: não queria voltar àquele tempo! O de hoje me agrada mais, ao ponto de me permitir sentir saudades. As mazelas destes tempos modernos? Nem me preocupo com elas, pois nunca nenhuma civilização vive sem mazelas. Vivo com a certeza de que toda idade tem seu encanto e todo encanto não depende de idade, mas de forma de ver a vida com abertura pra felicidade. Por isto, tenho saudades, mas não sou jamais saudosista.