Da série:Meus tipos inesquecíveis
DONA GERTRUDES
Água escorrendo translúcida procurando entre capim e cascalho um jeito de descer a ladeira.
Imerso em poça d´agua purifiquei-me por inteiro e lentamente, empurrei o portão de ripas.
Pisei os tijolos desencontrados e alecrins,ao redor da calçada, benzeram-me as canelas.
Chovia de manso,e alguns lampejos de sol ,intercalados, rabiscavam arco iris aqui e acolá.
Porta entreaberta...
Fui me achegando.Um recado de vovó fazia-me um mensageiro.
Receberam-me na saleta,olhares discretos de alguns retratos pendurados na parede.
Silêncio de templos, pingos tamborilando no telhado...
Uma cortina, que ia e vinha ,arrastava franjas pelo assoalho de tábuas largas.
No vai e vem,amostras do quarto.
Cama com cabeceira alta, colcha de retalhos encobrindo colchão de palha,tapete de retalhos iguais à colcha.
Uma canastra com as partes metalizadas carcomidas pela ferrugem,mesinha de cabeceira, catecismo, fita do apostolado e um pequeno lampião a querosene.
Noutro compartimento, pequenas xícaras perfilavam-se num guarda comida azul.
Rosas perfeitas,príncipes e princesas estampadas ao longo da porcelana branca.Delicadeza de fios dourados davam um toque sutil ao acabamento.
Um pequeno degrau e... A cozinha de chão batido.
[Porta esgueirando-se para o quintal]
Pêssegos amarelavam as brumas da tarde.
Sumarentos!
[Os mais deliciosos que já provei]
Odores em contraste na tarde chuvosa.
Pêssegos no quintal.Inhaca de menino molhado preso à suspensório,sorvendo encantamentos daquela casa.
Chamas crepitando no fogão à lenha,gatos enovelados em banco de madeira...
Velhinha sentada em cadeira de palha,janela rústica abrindo-se para o quintal...
Ternura vazando pelas retinas...Estancando junto ao tronco da figueira.
Ninhada de pintinhos recem nascidos abrindo caminho no chão molhado.
[ Tão amarelos quando os pêssegos do quintal]
Diálogo abrindo-se:
_Lindos!...Tão amarelinhos,tão...tão...,profere a velhinha com voz trêmula.
[Fogem-lhe as palavras]
Desengonçado balançar de cabeça é minha concordância com aquêle olhar da idosa, feito poesia presa ao retângulo de tábuas.
Feno umedecido cedia,submisso, aos assédios do vento.
Frescos e orvalhados,despencavam pêssegos sobre o macio tapete de capim.
Eu,o menino...
Abotoando no peito para sempre aquela tarde de chuva mansa.
PS. Dona Gertrudes, "Nhá Tuca", viveu mais de 100 anos.Figura destacada nas páginas dos livros do Prof.Orreda.
Quem a conheceu relembra com carinho de sua singela ,porém magnífica história.
Eu,não só a conheci,como catei em seu quintal,os mais sumarentos pêssegos que já provei.
joelgomesteixeira@hotmail.com
DONA GERTRUDES
Água escorrendo translúcida procurando entre capim e cascalho um jeito de descer a ladeira.
Imerso em poça d´agua purifiquei-me por inteiro e lentamente, empurrei o portão de ripas.
Pisei os tijolos desencontrados e alecrins,ao redor da calçada, benzeram-me as canelas.
Chovia de manso,e alguns lampejos de sol ,intercalados, rabiscavam arco iris aqui e acolá.
Porta entreaberta...
Fui me achegando.Um recado de vovó fazia-me um mensageiro.
Receberam-me na saleta,olhares discretos de alguns retratos pendurados na parede.
Silêncio de templos, pingos tamborilando no telhado...
Uma cortina, que ia e vinha ,arrastava franjas pelo assoalho de tábuas largas.
No vai e vem,amostras do quarto.
Cama com cabeceira alta, colcha de retalhos encobrindo colchão de palha,tapete de retalhos iguais à colcha.
Uma canastra com as partes metalizadas carcomidas pela ferrugem,mesinha de cabeceira, catecismo, fita do apostolado e um pequeno lampião a querosene.
Noutro compartimento, pequenas xícaras perfilavam-se num guarda comida azul.
Rosas perfeitas,príncipes e princesas estampadas ao longo da porcelana branca.Delicadeza de fios dourados davam um toque sutil ao acabamento.
Um pequeno degrau e... A cozinha de chão batido.
[Porta esgueirando-se para o quintal]
Pêssegos amarelavam as brumas da tarde.
Sumarentos!
[Os mais deliciosos que já provei]
Odores em contraste na tarde chuvosa.
Pêssegos no quintal.Inhaca de menino molhado preso à suspensório,sorvendo encantamentos daquela casa.
Chamas crepitando no fogão à lenha,gatos enovelados em banco de madeira...
Velhinha sentada em cadeira de palha,janela rústica abrindo-se para o quintal...
Ternura vazando pelas retinas...Estancando junto ao tronco da figueira.
Ninhada de pintinhos recem nascidos abrindo caminho no chão molhado.
[ Tão amarelos quando os pêssegos do quintal]
Diálogo abrindo-se:
_Lindos!...Tão amarelinhos,tão...tão...,profere a velhinha com voz trêmula.
[Fogem-lhe as palavras]
Desengonçado balançar de cabeça é minha concordância com aquêle olhar da idosa, feito poesia presa ao retângulo de tábuas.
Feno umedecido cedia,submisso, aos assédios do vento.
Frescos e orvalhados,despencavam pêssegos sobre o macio tapete de capim.
Eu,o menino...
Abotoando no peito para sempre aquela tarde de chuva mansa.
PS. Dona Gertrudes, "Nhá Tuca", viveu mais de 100 anos.Figura destacada nas páginas dos livros do Prof.Orreda.
Quem a conheceu relembra com carinho de sua singela ,porém magnífica história.
Eu,não só a conheci,como catei em seu quintal,os mais sumarentos pêssegos que já provei.
joelgomesteixeira@hotmail.com