O PROFESSOR E O GARIMPEIRO
Comparo o trabalho do professor com o trabalho do garimpeiro. Eles tem muitos aspectos em comum.
O garimpeiro demarcava sua “cata” (cada cata continha em média cinco metros de largura por dez de comprimento); de posse de alvião e uma pá começava a demolir as toneladas e toneladas de terra que cobriam o filão de cascalho, muitas vezes seis ou sete metros abaixo da superfície. Quando escavava e jogava para fora do imenso buraco a grande quantidade de terra era a hora de apanhar uma picareta e ir quebrando e amontoando o cascalho. Depois então, em uma pequena e tosca carriola de madeira, o garimpeiro esperançoso transportava todo o cascalho conseguido no fundo da cata, para lavar no ribeirão. Era chegada a hora de ver seu esforço recompensado com um diamante, ou ver seu trabalho perdido por não encontrar nenhuma pedra preciosa. Quando achava um diamante grande, eles diziam que tinham bamburrado e ficavam muito felizes. Se não encontravam nenhum “xibiu” reclamavam dizendo que haviam “queimado” cascalho.
Em quê um profissional tão rudimentar pode estar relacionado ao professor? Eu diria que em todos os aspectos. O professor recebe no inicio do ano letivo uma classe que pode ser perfeitamente comparada a uma cata. E ele começa seu trabalho. Suas ferramentas são diferentes, lápis, giz, caderno e quadro são fisicamente mais leves que pá, picareta e alvião. Mas, ensinar crianças é bem mais pesado do que baldear nos braços toneladas de terra.
Então o docente vai demolindo os traumas, a fome, a preguiça, as dificuldades específicas de cada aprendente até que chega ao rico cascalho da construção do conhecimento e nessa garimpagem, muitas vezes ele bamburra e outras ele queima seu cascalho.
Professor e garimpeiro se parecem também na sua perseverança.
Enquanto o garimpeiro não arrefece seu ânimo diante da montanha de terra que tem pacientemente que desmontar e baldear, o professor não desanima e recebe com risos e afagos; numa sala toda enfeitada, mais uma turma em cada inicio de ano. Ambos sofrem com o peso dos anos e a dureza do trabalho; reclamam, envelhecem, padecem, mas não abandonam seu combate. Um arremata seu trabalho usando peneiras, outro usando alfarrábios, mas, os dois perseguem o mesmo objetivo. Descobrir as pedras preciosas que existem escondidas no fundo da terra e na alma dos aprendentes.
Se hoje o garimpo se modernizou e demolir e baldear a terra pode ser feito com escavadeiras e tratores, ainda existem muitos garimpos distantes e garimpeiros que não tem condições econômicas de possuir esses facilitadores e continuam a cavar e baldear a terra, quebrar o cascalho e lavá-lo artesanalmente. Da mesma forma, a tecnologia chegou à escola, a educação experimenta um momento de grande evolução tecnológica, porém, muitas e muitas escolas não tem sequer carteiras para todos os aprendentes, o professor mal tem um quadro e giz para ensiná-los, mas está lá e não desiste de estimular, plantar vida e cultivar sonhos na alma de seus discentes.
E os diamantes vão surgindo em todas as salas de todas as escolas, assim como era no velho garimpo.
WANDERLICE DE SOUZA CARVALHO
Apucarana, 02 de fevereiro de 2012