Uma Pessoa
Quantos nomes já passaram pela minha vida tal como as páginas reviradas do diário que confidenciou cada momento bom – digno de ser chamado de inesquecível – que existiu entre nós. E como é gostoso colocar os olhos pela primeira vez naquela pessoa que, por acaso, te chama atenção e deixar que ela entre na sua vida e fique. E te dê motivos para esperar mensagens carinhosas durante todo o dia, visitas não combinadas – mas nem por isso deixam de ser agradáveis – que salvarão suas tardes de domingo, ou toda sua semana, talvez.
Quantas vezes a gente promete não se apegar, não deixar que o coração mande no resto de sua vida, e sem perceber, de uma hora pra outra lá está você todo bobo diante de uma pessoa – a essa altura chamá-la simplesmente de “uma pessoa” já não é conveniente, vocês entendem, não é? Você quer que essa pessoa seja o complemento do seu ser; seja o nome mais freqüente do registro de chamadas do seu telefone; seja a sensação de paz e conforto que você gosta de ter.
E você fica daquele jeitinho. Esquece de levar a toalha para o banheiro; faz compras, paga e se esquece de esperar o troco; deixa a comida queimar; não come direito; se assusta com o toque do celular; perde as chaves de casa; ouve música no volume máximo e nem percebe; veste a roupa pelo avesso; tenta ligar pra alguém – seu chefe, seu pai, seja lá quem for! – e acaba ligando pra ele e fica horas e horas e horas falando bobagens. Como é bom!
Liga a TV, mas não presta atenção no que acontece. Ninguém percebe seu olhar perdido. Parece que o resto do mundo se movimenta ao seu redor, mas você permanece ali, imóvel. O problema é que você não para de pensar naquela pessoa. Às vezes até acha tudo isso ridículo, mas tá acontecendo, pronto, aceite. E depois você vai vestir sua melhor roupa para ir encontrá-lo.