ROBERTO AGAPITO
Roberto Agapito entrou em nossas vidas de maneira mansa. Assim como muitos outros que encontraram abrigo, conforto e compreensão em nossa casa, começou a freqüentá-la pelo lugar mais delicioso: a cozinha.
Quando, em agosto de 2010, por ocasião do dia dos pais, lancei meu livro de contos e crônicas, disse, durante nosso programa de rádio, que tinha orgulho de tê-lo no seio de nossa família. Vejo que estava errado: não é Roberto Agapito que ganha dias de sensibilidade e horas de alegria entrando diariamente em nossa família, mas é nossa família que toma aulas de honradez, lealdade e transparência de caráter, características tão nobres que realmente só podem ser atribuídas aos cavalheiros de grande estirpe.
Roberto Agapito integra a alta linhagem dos mais nobres cavalheiros na medida em que nos surpreende com sua educação e cortesia. Eventualmente perde a cabeça quando se equivoca em suas ações e meu pai chama-o à razão – assim como tem feito comigo inúmeras vezes. Revolta-se, briga, discute, bate-boca, mas, assim como eu, depois de boa dose de reflexão, retorna ao ponto de partida para aprender a andar novamente. Apenas um cavalheiro exerceria plenamente a qualidade mais cara ao homem: a humildade. A humildade com que assume o erro é a mesma humildade que aumenta o tamanho de seu espírito quando, correto, prefere desculpar-se a discutir com pessoas repletas de sofrimento, de desesperança, de solidão.
A humildade e a gentileza não o tornam submisso, entretanto consolidam os ares de cidadania que o eleva aos expoentes dos movimentos sociais. Adepto dos trabalhos voluntários, participa da fundação de Associações de Moradores, de entidades representativas, de grupos civis de orientação e prevenção à Aids, contra as drogas, as bebidas alcoólicas e o tabagismo. Perseguido pelos corruptos, jamais esmorece ou se intimida. Seus esforços ultimamente têm se voltado à criação da Associação de Saúde Mental que, na sua concepção, assegurará cidadania aos pacientes dos centros de Saúde Mental.
Sua veia mais visível: a Arte. Gosta de música, de rádio, de conversar e captar, em seus poemas, a fragilidade universal. Se o poeta constrói-se na nobreza de espírito, Roberto Agapito é grande pelo conjunto de suas características imanentes.
Justamente pelo enfrentamento, alguns perseguidores quiseram agredi-lo, criticá-lo, magoá-lo. Não se pode agredir, criticar ou magoar quem, nas palavras do poeta Antônio Lázaro de Almeida Prado, atingiu a inigualável capacidade de sofisticar a realidade plantando os pés nas nuvens. O cronista e filósofo Rubem Alves proclamou, em uma de suas crônicas, que o nome de Deus era tão forte que, ao ser pronunciado, os demônios de todos os infernos estremeciam. Sinto-me presenteado se o nome de Roberto Agapito é atacado por ladrõezinhos de meia tigela. Um ladrão apenas elogia seus comparsas, seus bajuladores, seus companheiros e similares. Ser atacado por um ladrãozinho de meia tigela é ter a convicção de que não se está na mesma quadrilha que ele, contudo no caminho oposto. O caminho oposto à ladroagem é a honestidade.
Quando estive em Porto Alegre em 2009, almocei com o romancista Luiz Antônio de Assis Brasil a quem, durante o café, solicitei o autógrafo a duas dúzias de livros. Enquanto rabiscava as mensagens, perguntou-me quem era Roberto Agapito. Poeta de alto quilate do interior paulista e, sem dúvida, um irmão. Irmão que se reunia a mim em sonhos, desejos, realidades, aspirações coletivas e literárias.
- Neste caso, complementou Assis Brasil, somos todos irmãos.
Quando leciono ou me dirijo a públicos para falar de Educação, Literatura ou Corrupção, lembro-me de Paulo Freire, Edgar Morin, Rubem Alves e Boaventura de Sousa Santos: Educação não se encerra nos limites da escola, mas transpassa os meandros da sociedade. Perdemos tempo em faculdades quando, na prática, precisaríamos conviver com as pessoas certas.
Aprender a ouvir é a primeira ferramenta do Educador. Aprender a ouvir é a surpresa de cavalheiro de estirpe. Se pretendo me tornar pessoa melhor e Educador de verdade, preciso inspirar-me nos cavalheiros. Quando penso em cavalheiro de mais alta linhagem, a imagem de Roberto Agapito desenha-se em minha mente.
*Publicado originalmente na coluna Ficções, Caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) de 3 de fevereiro de 2012.