Em Roma, como os romanos

Fomos ver a exposição sobre Roma e o império romano (ver dados abaixo) no cultuado edifício do Masp, onde é sempre um prazer entrar, e a lenda de Rômulo e Remo assustou minha filha. Onde já se viu um irmão matar outro? Sendo gêmeos, para piorar?

A própria exposição encarregou-se de explicar o fato. A família romana não era, como a nossa família atual, baseada em laços afetivos, e sim em interesses econômicos e/ou políticos. Claro que os membros podiam até gostar uns dos outros, mas não era isso que sustentava a ligação entre eles, e sim o poder. O chefe deste núcleo era o pai (pater famílias), ou, em sua ausência, o varão mais velho; e todos se submetiam ao seu poder. Assim, como não havia um necessário afeto entre os membros deste núcleo, se houvesse interesses políticos qualquer um poderia ser eliminado sem problemas de consciência.

Parece inimaginável para nós, que desenvolvemos nossos laços baseados no afeto e no amor; mas à luz do momento histórico e cultural faz sentido. Por conta desta submissão a um chefe, a família era indissolúvel e não poderia haver divórcios - só assassinatos!...

Ao longo dos séculos, a instituição casamento no ocidente adquiriu novos contornos; e mesmo hoje, quando na maioria dos casamentos os laços afetivos são o propósito primeiro, o divórcio continua inaceitável pela igreja. Mesmo quando os laços se enfraquecem ou terminam.

O segundo ponto que me chamou a atenção nesta exposição interessantíssima, com peças de mais de dois mil anos ali expostas, foi a famosa pax romana. O império, no seu auge, conquistou enorme parte do mundo conhecido e conseguiu manter a paz por séculos, sem que seus conquistados se rebelassem. Como? Simples: uma vez pagos os impostos e aceitas as condições básicas da submissão política e econômica a Roma, cada um podia seguir sua vida, seus costumes, suas religiões. O império não procurava impor a ninguém suas crenças ou hábitos, respeitando, muito mais do que nos séculos vindouros, a cultura dos povos sob seu comando. Diferentemente do massacre (físico e cultural) que os espanhóis e portugueses fizeram depois com culturas riquíssimas, porém diferentes, em nome de Deus...

Engraçado como a igreja que fez de Cristo seu foco havia conseguido deturpar as palavras dele próprio. Segundo consta, Jesus, ao ser perguntado pelos fariseus se era justo pagar tributos a Roma - pergunta capciosa dos que queriam colocá-lo contra as autoridades – inteligentemente respondeu: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Simples, não?

(Talvez a confusão que tenha se formado na cabeça das pessoas seja separar exatamente o que é de César e o que é de Deus...)

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Exposição- Roma: A vida e os imperadores

MASP (Av. Paulista, 1578), até 22/04/2012

Terça a domingo das 11 às 18hs, quintas até as 20hs.

Ingressos: R$ 15,00 (inteira); professores, aposentados e estudantes R$ 7,00

Terças feiras, gratuito.