Cinquenta minutos fora do horário

Cheguei exatamente as 06h40min no ponto do ônibus que pego para ir ao trabalho, parece cedo demais pegar um coletivo há esta hora, mas na verdade eu já estava cinqüenta minutos atrasados, tanto para o meu trabalho tanto para pegar o ônibus, pois cinqüenta minutos de atraso tinha uma significância negativa enorme para mim.

Justamente neste dia que eu perdi cinqüenta minutos preciosos em relação ao meu conforto, se é que se pode dizer que andar de ônibus é confortável, estes malditos cinqüenta minutos me tiraram o prazer de fazer uma viajem dolorosa pelo menos sentado, pois uma viagem onde encontramos no caminho buracos do tamanho de uma cratera lunar onde as rodas do coletivo caem e juntos o seu estomago e calcanhares, os quebra molas que mais parecem montes onde não se quebra só as suspensões do carro como danifica também os discos cervicais e colunas lombares dos pobres passageiros, sem falar nas curvas que quando adentrada em alta velocidade pelo motorista atrasado em seu horário de percurso (eu também estava atrasado e não fiz nenhuma peripécia automobilística) jogam os mortais passageiros de um lado para o outro como se fossem guizos de um chocalho na mão de um iniciante, ter o privilégio de seguir sentado é naquele momento uma dádiva do Todo Poderoso.

Mas eu estava em pé, ou melhor, espremido, retorcido, empenado no meio de tantos outros na mesma situação que eu me encontrava no ônibus, sendo jogado, danificado e sacudido naquele coletivo, era um tal de bolsadas no rosto, pisões nos dedos dos meus pés, cotoveladas, (não é luta não gente, é só uma viagem de ônibus) sem falar no calor que não tem nada de humano, mas é comparado com um forno assando empadinhas.

No meio disso tudo, o pior ainda está por vir, ficamos uns trinta minutos parados num engarrafamento monstruoso ocasionado pelo excesso de veículos na estrada, coisa que se fosse uns cinqüenta minutos atrás, eu não teria enfrentado, nisso tudo ainda pude constatar uma ironia, na fila que era formada pelos carros lá do lado de fora, um modelo me chamava à atenção por ser um belo carro, com as janelas fechadas por causa do ar condicionado do possante veículo, o seu motorista gesticulava e buzinava desenfreadamente incomodado pelo fato de estar parado no congestionamento, naquele momento pude ver o quanto deve ser bom ficar num engarrafamento quase trinta minutos, sentado num carro com ar condicionado, e o infeliz ainda reclama, queria ver se ele estivesse dentro do ônibus.

Esses cinqüenta minutos de atraso me fez pagar um bom pedaço dos meus pecados, me fizeram enxergar onde anda os direitos do consumidor, que ao pagar pela passagem de uma condução, está pagando para viver os minutos mais truculentos do seu dia, e isso é só a ida, pois ainda tem a volta.

Por causa destes cinqüenta minutos, perdi uma viagem menos desgastante, mas hei de confessar que ganhei cinqüenta minutos prazerosos, foram cinqüenta minutos a mais na minha cama, com a mulher que amo, na casa que tanto me conforta, ganhei cinqüenta minutos a mais de vida, acho que nestes últimos anos foram os cinqüenta minutos mais eternos da minha vida, pena ter um ônibus cheio neste caminho, parece que em cinqüenta minutos você passa das nuvens para o caldeirão.

P S ASSIS

Pietro Assis
Enviado por Pietro Assis em 02/02/2012
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