O MENINO E O MOTORISTA

Dominguinhos tocava seu pneu velho pelas ruas encascalhadas de Saramandaia, lugarejo encravado no alto sertão da Paraíba, quando uma baita carreta parou bufando ao seu lado, soltando guinchos do ar comprimido no sistema de freios do possante veículo. O motorista, caboclo forte, moreno queimado pelo sol sertanejo, cabelo grande, óculos escuros e um sorriso simpático nos lábios indagou:-

“- Hei, garoto, sabe onde é que eu acho um restaurante por aqui pra matar minha fome?...”

Dominguinhos parou com seu pneu, olhou serio pro forasteiro e respondeu coçando a cabeçorra:-

“- Ah, moço não sei de restaurante aqui não! ...”

O caminhoneiro pisou no freio da carreta, soltando de novo aqueles chiados do ar comprimido e fez outra pergunta:-

“- Aí, meu preá, você sabe de alguma pensão por aqui onde eu possa estacionar o carro, tirar a poeira, tomar um bom banho, fazer a barba e descansar um pouco? Sabe?”

“- Sei não, seu moço, sei não! ...” – respondeu o Dominguinhos, já meio impaciente.

O motorista, então, tirou os óculos escuros, botou a cabeça pra fora da cabine da carreta, deu grossa cusparada no chão poeirento e sapecou:-

“- Eita, diacho, mas você não sabe é mesmo nada, heim, seu cabra? ...”

Foi aí que Dominguinhos franziu o cenho, ergueu o cabeção e disparou no maior tom de deboche:-

“- Sei não, sinhô! ... Mas quem tá perdido aqui é vosmicê, né mesmo? ...”

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 02/02/12

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 02/02/2012
Reeditado em 01/02/2013
Código do texto: T3476841
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