SIMETRIA DO AMOR

Ser engraçado em situações extremas é para poucos. Meu pai foi uma dessas pessoas que conseguia mudar o rumo da conversa com uma tirada histórica. Porém, nos últimos dias de vida mergulhou num silêncio incômodo. Eu, que acompanhei tudo de perto, pressentia a despedida. Meu pai, porém, sempre resistiu em dar adeus.

Certo dia, disse docemente:

- Fica triste não filha, tudo isso faz parte do meu show.

Eu ficava ali dando com os ombros fingindo não entender a mensagem. Em seu último réveillon, abracei-o e desejei com a voz embargada um feliz ano novo. Ele me olhou bem nos olhos e disse que aquele seria seu último ano novo e que ele morreria no dia que seu pai morreu.

Papai partiu no dia 13 de janeiro e enterrado no dia 14, aniversário de morte de meu avô.

Cláudia Sabadini
Enviado por Cláudia Sabadini em 02/02/2012
Código do texto: T3476707