Velhice

Não tenho mais o rosto que tinha no passado. Meus cabelos estão brancos, minha barba também. Meus dentes caem como no princípio de minha infância, confesso que senti certo sentimento pueril.

As pessoas nas ruas me tratam como se eu fosse um ser frágil, que a qualquer momento poderá se quebrar. No ônibus eu entro e eles não me fornecem o lugar. Direito constituído. Onde está toda aquela gentileza que se apresentam nas ruas e exposta pela mídia? Eles não têm sentimentos... Ser velho é viver ignorado pela sociedade. Viver a mercê de um ou de outro. Jovem: faça o seu pé de meia, pois seu futuro é a velhice. E aí terá os poucos dias que lhe restam ancorados numa situação de miséria emocional. Somos afastados da sociedade. Jogados em asilos ou em eufemismos como as casas de repouso. E os primeiros a nos isolarem são os familiares, eles querem a sua juventude para poder viverem. Que velho chato!

Os cosméticos, as academias, as cirurgias levaram os seres humanos a buscarem a eterna juventude, pois a velhice é um momento da vida que causa medo, pavor. Pergunte a um jovem se ele quer ficar velho. Ele ficará sim porque é uma lei da vida. Não há como escapar. Ou se morre antes!

Os amigos que eu tinha já não aparecem mais, alguns faleceram sim, porém os que aí estão desapareceram, afastaram-se. Minha aposentadoria mal da para pagar as despesas aqui do asilo que meus filhos me largaram. Fui depositado. Afastado dos meus bens, pois eles me julgaram incapaz. Furtaram o meu dinheiro. Era mais fácil que me pedissem. Aparecem aqui só no Natal para me trazer um panetone, nada mais.

Sinto falta sim da minha juventude, mas como é bom sentir o dever cumprido, viver com a memória tranqüila, sem nada dever a qualquer ser humano. Sou limpo, optei por uma vida regrada, prezei pela educação dos meus filhos, investi no futuro deles, olhem o que aconteceu comigo... estou aqui deixado pelos ingratos. Nada que fiz foi para receber algo em troca, apenas um gesto de amor, carinho.

Ao me defrontar com o espelho sei que minha face não é mais a mesma, porém minha alma continua clamando pelo bem.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 02/02/2012
Código do texto: T3476236
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