Sorrisos e elogios.
Queria escrever como o Luís Fernando Veríssimo, ele tem uma capacidade estupenda em fazer humor com a loucura humana. Eu como não cheguei neste nível, faço drama.
Então vamos à pendenga:
Minha amiga de trabalho Laercia, era sempre sorridente e compassiva com todos, ainda mais com os novos funcionários que estavam no nosso setor de uma empresa que atua em todo o país.
Certa manhã, íamos nós em um novo trabalho, quando ela me chamou para sanar um imprevisto,
Dávamos cursos sobre a política da empresa e naquele dia, o número de alunos havia ultrapassado o número de cadeiras e de vagas na sala.
Como resposta à inquietação dela, eu disse:
- É fácil, tiramos o excendente de dois alunos, e damos aula aqui fora com nosso material , e os demais vão ter aula na sala.
Ótimo, solução dada, lá fui eu auxiliar a Laercia no curso que ela deveria dar aos alunos que estavam na sala.
Mas para minha surpresa, não era que iria dar a aula, mas sim um novato que havia entrado há apenas um mês e que nada sabia sobre o assunto.
Mas ela iria dar a aula a dois excedentes do lado de fora, e escalou o “pobre coitado’ para dar aulas aos demais vinte alunos, que estavam na sala de aula.
Lá fomos nós dar a aula, enquanto a "colega" ficava com a parte fácil da tarefa.
Logo, no início, percebi que o iniciante nada sabia sobre o tema e muito menos sobre falar em público, ele estava em maus lençóis literalmente.
Em respeito aos demais alunos do curso, que dependiam daquilo para terem seus empregos, fiz diversas intervenções na aula do rapaz, cheguei até mesmo a falar mais do que ele para pelo menos dar umas diretrizes àquelas pessoas que dependiam dos conhecimentos daquele curso.
Ao final do curso eu não agüentava mais ver tanta incompetência e falta de conhecimento por parte do instrutor, mas sabia que não era culpa dele, mas sim da minha colega que o colocara em seu lugar para dar o curso, e ficara de fora, apenas resolvendo seus problemas internos (pois a aula para dois alunos durara muito pouco tempo, dando a ela um enorme tempo livre). Talvez por ser funcionária antiga se achasse neste direito, vai entender – ela deveria pelo menos pensar que havia pais de família necessitando daqueles conhecimentos para dar continuidade aos seus empregos, ao invés de pensar somente no próprio umbigo.
Terminado o curso, o rapaz saiu da sala, suando frio, como se tivesse saído de uma luta de boxe, e se sentou ao meu lado. Agradeceu-me pela ajuda e respirou fundo.
Qual não foi minha surpresa quando minha colega o elogiou pelo curso, e disse que ele era um professor nato, que nunca havia visto alguém com tanta capacidade.
Ora, o garoto enrubesceu com o elogio dela, que tinha apenas o objetivo de fazer com que ele desse mais aulas substituindo ela, para que ela pudesse ficar mais á toa.
Fora uma aula horrível e ela que tinha mais de dois anos na empresa é que tinha que dar o curso, mas fugiu da responsabilidade e ainda elogiou o garoto para ele ficar, por mais tempo, fazendo o serviço dela.
Quanta falsidade, pensei comigo.