Lembranças da juventude

 

 

Lá pelo final dos anos cinqüenta começamos a freqüentar Ubatuba, a praia dos taubateanos. Até então, passávamos as férias em Caraguá. Fiquei encantada com a beleza da paisagem, a variedade de praias, os banhos de cachoeira! A liberdade de sair à noite, os bailes de carnaval, tudo era festa!

 

Companhia não faltava, todo mundo conhecia todo mundo e os jovens iam aos mesmos lugares. Todas as manhãs caminhávamos até o Perequê, onde tomávamos banho de mar, nos bronzeávamos, encontrávamos os amigos e paquerávamos. À tarde, circulávamos pela cidade, casa dos amigos, lojinhas de artesanato, sorveterias. Gostávamos de passar o tempo em papos furados. De vez em quando alguém tocava em assuntos filosóficos, queria discutir problemas existenciais, mas isto não interessava muito. Conversas fiadas eram mais gostosas.

 

À noite, a praça Exaltação da Santa Cruz ficava cheia de gente. Senhoras conversando nos bancos, crianças correndo, subindo e descendo do coreto, moças e rapazes da terra fazendo footing.

 

Nós, os turistas, preferíamos o cinema. Depois, íamos dançar nas duas boates da cidade ou ficávamos na mureta da praia do Cruzeiro. Ali sempre havia alguém tocando violão para animar as rodinhas. Um deles era o Tony Campello. Outro, mais jovem, era o Renatinho Teixeira. Embalados pelas canções, passávamos horas e horas ao relento sem perceber que a noite escoava. Só nos dispersávamos quase ao raiar do dia. No caminho de volta comíamos pão quentinho sentados na calçada da padaria.

 

Esses programas noturnos muitas vezes eram tumultuados porque corria a notícia de que alguém tinha sido preso. Agitados e indignados, tínhamos que ir atrás dos adultos para libertar o infeliz. Os motivos da prisão quase sempre eram os mesmos: dirigir sem carteira de motorista, estar na boate sendo “de menor” ou tentar entrar no cinema sem pagar...

 

O filho do dono do cinema costumava franquear a entrada para um seleto grupo do qual fazíamos parte. Mas tínhamos que entrar junto com ele. Chegar sozinho dizendo que era seu amigo não adiantava nada. Dava cadeia!

 

De vez em quando fazíamos uns passeios diferentes, íamos tomar banho no Tenório. Chegar até lá não era fácil, a praia ficava longe do centro e a estradinha terminava bem antes da areia. Ali deixávamos o carro e seguíamos por uma trilha, andando em fila indiana.Não havia casas no local.

 

Que praia linda! Suas areias fofas e branquinhas cantavam sob nossos pés! Depois de um gostoso banho em meio a ondas agitadas, seguíamos para a Enseada. Hora dos aperitivos: caipirinhas, batidas de coco, camarões fritos...

 

Uma vez ou outra íamos à Praia Grande, mas não tinha tanta graça. Aquilo mais parecia um imenso deserto.

 

Isso tudo sem falar nos banhos na Cachoeirinha e na aventura de deslizar por baixo da ponte...