CAMINHADAS

CAMINHADAS

Levantei-me, como de costume, por volta de 04:30h, para a caminhada diária no parque, com meu grupo. O dia estava bem fechado, com uma leve garoa, tradicional nestes campos de Piratininga. Choveu a madrugada inteira. Devo confessar o quanto é tresloucado esse gesto maníaco, em acordar tal hora, num dia de inverno, tempo úmido, temperatura entre 15 e 16 graus centígrados, saindo de uma cama quentinha, aconchegante. Como nos autodenominamos, somos os Malucos do Parque.

Ao chegar no estacionamento, notei a inexistência de veículos, um só que fosse. Silêncio sepulcral, escuridão, nem os bem-te-vis, sabiás e outros habitantes do local, saíram de seus ninhos. Senti-me como um único habitante da terra, quadro que somente se modificou, com o surgimento de um integrante da guarda municipal, coisa rara, a dar seu ar da graça, naquela paisagem despovoada, que mais parecia, sem nunca ter ido lá, o deserto de Atacama. Apesar da intensa vegetação existente no local!

Enquanto aguardava a chegada dos amigos, sobrou-me tempo para relembrar dos tempos passados naquele logradouro, das pessoas que conheci, dos que já se foram para o descanso eterno, dos acontecimentos marcantes ali havidos. Fato interessante, logo perceptível, foram as amizades criadas, que nasceram de modo espontâneo, sem qualquer interesse. Onde se curte a natureza, a aproximação das pessoas se faz de modo natural, não importando o nível social das mesmas. Ela acontece como a mudança da noite para o dia, sem uma solução de continuidade. O operário, o profissional liberal, o executivo, naquele ambiente se equiparam. É o João, o José, o Pedro, todos são conhecidos pelos simples nomes, ficando de lado o doutor, o professor, o senhor.

Senti saudade do Seu Luiz (Luba), um senhor de origem judaica, morador de São Caetano do Sul, minha companhia diária na caminhada, quando me contava toda a sua luta nos primeiros anos de Brasil. Vencedor, porque conseguiu amealhar uma considerável fortuna, e, o mais importante, formou uma bela família, com alguns de seus membros também frequentadores do parque. Mais recente, a Dona Lourdes, também caetanense, esposa de outro Luiz, gente simples, que nos deixou no ano passado (2010).

Dos vivos, o Pedro Canova, professor, hoje morador em Curitiba, para onde foi há uns 20 anos. O Toninho, apelidado Anjinho, por causa do cabelo branco enroladinho. O próprio Arcanjo. O Lozano, madrugador, publicitário. O Arnaldo, corredor dos bons, apesar da idade. A Célia, filha do Seu Luba, muito divertida, mulher do Rubi (Quinho), meu amigo de infância. O Egberto, magrinho como um palito, bom corredor, se bem que, ultimamente, ao encontrá-lo, fiquei sabendo que parou, por motivo de saúde.

E tantos outros!!!

Voltando à realidade, e vendo as horas, conclui pela ausência dos amigos atuais, pois o tempo úmido espantou a todos.

Então, ... fui!!!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 01/02/2012
Código do texto: T3474796
Classificação de conteúdo: seguro