O tempo não para!

Hoje, o jeito era sair de casa bem cedo porque os afazeres eram muitos. Percorria um longo trajeto, mas pouco a pouco solucionava o que devia ser feito. E, quase finalizando a lista de compromissos, deparei com um velho amigo. Ele estava diferente. Animado. Ditoso. Aquele entusiasmo de certa forma me contagiava. Então, resolvemos deixar o que tínhamos para fazer de lado, e paramos pra conversar. Afinal, havia bastante tempo que não o via. Fomos para o jardim da cidade, era o ponto tranquilo mais próximo. Sentamos e a conversa rendia cada vez mais. Opinávamos sobre os diversos assuntos que estavam causando polemicas na atualidade. Rapidamente, um deles se destacou: A religião. Quando iniciamos esse tópico, algo parecia ter se desentoado. É, infelizmente, meu velho amigo era ateu. Embora eu não conformasse com sua escolha, não o criticava. Pois, compreendo que de nada adiantaria. Queria tanto ter a capacidade de mostrar o quanto é benéfico poder viver em harmonia com o nosso criador. Porém, não queria impor nada. Contudo, o silêncio da parte dele me incomodava. Mas não sanava um desejo árduo de continuar exprimindo um ideal. Contava experiências. Relatava os benefícios. Não demorou muito para que eu fosse interrompida por uma dúvida alheia insistente. Ele me fazia inúmeras perguntas, mas não dava tempo para que eu pudesse responder. Queria entender o motivo que fazia crer, a razão para que eu fosse capaz de amar alguém que nunca vi. Lamentavelmente, essas são as desculpas usadas por alguns seres que tentam justificar sua incredulidade. São dúvidas que realmente têm respostas abstratas. E são elucidadas somente no interior de cada indivíduo. Ficamos horas debatendo sobre esse tema, e quando já estava quase anoitecendo, fomos embora. Passou alguns dias e recebi uma notícia que me deixou extremante desnorteada. Meu velho amigo havia falecido. Não conseguia acreditar. Andava de um lado para o outro, o tempo inteiro. Era um sentimento ruim que lentamente me sufocava, angustiava-me. Tentava me conter, sem êxito. Parecia que eu sabia que todas as minhas palavras de alguns dias atrás tinham sido inúteis. Infelizmente, essa era a realidade. Ele não teve tempo para perceber tudo o que eu tinha dito. E se perdeu, para sempre. Às vezes, é tarde demais para a gente se dar conta do tempo que perdemos preocupando com as demais coisas.