Telhado de Vidro

Poucas vezes ultimamente tenho tido motivos para ficar satisfeito com as declarações de nossos presidentes. Dessa vez, contudo, meus ouvidos sentiram-se perfeitamente acomodados às palavras proferidas por nossa Chefe de Governo quando de sua visita a Havana. Perfeita a alusão à Guantánamo, onde se acham presas – não se sabe em que condições porque ninguém consegue entrar ali dentro – por mais de dez anos pessoas que ainda nem foram julgadas. E também à ausência de direitos humanos em nosso próprio país, coisa que ninguém desconhece. Basta lembrar as condições de extrema pobreza dos que vivem em áreas remotas do nosso sertão nordestino ou ao que aconteceu aos que ocupavam a área conhecida como Pinheirinho, no interior de São Paulo.

Os que reclamam agora de Cuba não devem ter conhecimento do que havia no país no tempo de Fulgêncio Batista. Em que não existia qualquer tipo de embargo e eram remotas as possibilidades de acesso à cultura e à saúde.

Cuba tem sido punida, através desse embargo infame, por ter se libertado daquele regime de características não menos ditatoriais. Que, não obstante, tinha a simpatia dos EUA.

Não se vê mendigos no país caribenho e nem crianças fora da escola. O que acontece por aqui, embora não possamos nos esquecer de nossas dimensões continentais. Apesar de que, tendo em vista a dimensão do nosso continente e as nossas riquezas – madeira, metais, água, etc. – e a ausência de embargo econômico, deveríamos ter menores índices de pobreza e maiores de educação.

É de se notar o aproveitamento que se faz da ida de Dilma à Cuba para a condenação sistemática das condições de vida no país caribenho. É de se notar também que tal condenação é feita por dissidentes cubanos, possivelmente com respaldo de setores governamentais americanos. Como deve ser o caso da blogueira Yoani Sánchez, que pode ser lida em mais de 15 diferentes línguas. Será que não há nenhum tipo de patrocínio para isto? Ou trata-se apenas de um apoio filantrópico destinado a libertar o povo cubando das garras de um regime ultrapassado?

É evidente que Cuba não pode ignorar as distorções de um sistema econômico talvez anacrônico em relação ao que acontece no mundo moderno. Especialistas no assunto poderão dizê-lo melhor que eu. E disso os cubanos devem estar cientes, a julgar pelas recentes movimentações na direção de mudanças quanto à aquisição de imóveis, concessão de vistos e outras.

Com essa visita de Dilma, o Brasil se impõe na sua tradição de não interferência em assuntos internos de outros países. O que esperamos seja um exemplo pro mundo, que assistiu placidamente às invasões do Iraque, da Líbia – e agora, se não houver resistência, à do Irã. Posição prudente e respeitosa, sobretudo pra quem tem telhado de vidro.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 01/02/2012
Código do texto: T3474227
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