Professor: dispensável
Creio que fui dispensado de uma universidade particular, há uns seis anos, porque dei notas reais para meus alunos de Oficina de Redação.
Por misericórdia, dei nota 5 para eles, a mínima para passarem. Raríssimos, acho que só um, aliás, sabia escrever bem. Outro, muito bom na área dele, tecnológica, era péssimo na escrita. Perguntei-lhe se houve prova de redação no vestibular que havia feito.
- Sim, professor, eu fiz a lápis, e eu sei que 'tava' cheia de erro e passei.
Desconfio que fui dispensado porque fui chamado para uma conversa com a coordenação do curso, na qual me perguntaram o que significavam aquelas notas. Falei a verdade: os alunos não sabiam escrever. Não havia como dar notas melhores. A conversa ficou nisso. Dias depois, vi em minha conta corrente uma quantia inesperada. Descobri que havia sido dispensado: era minha rescisão. Até que veio a calhar. Pagaram tudo direitinho.
Meses depois encontrei outro aluno. Ele me disse que o único professor com aula boa era eu, "e ainda mandam embora", lamentou.
Então, o problema não era eu, realmente. Vivia ouvindo de meus alunos que eu era um dos melhores professores lá. E eles eram inteligentes, na área deles. Não posso dizer que eram ignorantes. Eu, por exemplo, era mais ignorante na área da tecnologia do que eles, mas, na redação... Se eles não aprenderam a escrever em toda a vida escolar, que dura pelo menos onze anos, não iriam aprender tão rápido agora, em dois meses, com apenas 32 horas de aula.
Assim, descobri que o professor é o único profissional que, por se empenhar pela qualidade da sua produção, é totalmente dispensável para a empresa.