Hoje fui a um lugar que não existe mais...
Hoje fui a um lugar que não existe mais...
Meados da década de 70, mudança para a rua tranquila de bairro calmo. Casa espaçosa, quintal idem. Brincadeiras e fantasias infantis no auge da existência.
Meu primeiro dia de aula, o aperto no peito por estar “sozinho”, longe – um quarteirão – de casa, rodeado de pequeninos e assustados estranhos. A “tia” Marilda, as lições da Caminho Suave – estou aprendendo a ler!!! -, o longo recreio... “Como você chama?”. “Onde mora?”. “Vamos brincar?”...
O mundo é maravilhoso, as pessoas são boas, os livros, gibis, filmes e desenhos da tv, extensões da minha realidade sonhadora.
Hoje, tanto tempo depois, passei por lá...
Aqui, logo na esquina, começo da rua, era a casa do Edu... mas... o que é isso?!! I don’t believe! É isso mesmo?! Um McDonald's...
Quem diria... de cara, vi que a rua da minha infância não existe mais, tal como ficou gravada em minha memória; sucessivamente, desfilam ante meus olhos estabelecimentos comerciais e sérios, nada é parecido com minhas lembranças...
Só existe um lado, o que eu morava, o outro foi tomado por uma monstruosa avenida, sepultando memórias, sonhos, vidas bem vividas...
Minha casa era ali... era... um sólido e alto muro esconde o lar que por tantos anos acolheu a criança que vive e sofre em mim...
Lá, quase no fim da atualmente mutilada e agônica rua, morava a Mariana... onde está você?... Irmã do Paulo, filha da dona Kim e do "Papai", sendo estes dois últimos um simpático casal de coreanos, que tinham uma mercearia próxima à escola e minha casa. Ela era uma gracinha, brincávamos e estudávamos juntos no primário, na Escola (hoje Colégio) Adventista do Brooklin; víamos A Princesa e o Cavaleiro, Super Dínamo, Ultraman e outros seriados incríveis, juntos. Certa vez, tínhamos oito ou nove anos, o irmão dela foi tomar banho e nós ficamos sozinhos... chegamos bem pertinho um do outro e eu perguntei, sentindo nossas inocentes respirações ofegantes: "Com quem você vai se casar quando crescer?". E ela: "Com você!".
Foi algo inesquecível e puro, que me marcou muito!
A Mariana mudou-se para o bairro da Liberdade, aqui em Sampa, não deixou endereço, mas a criança apaixonada que existe em mim clama por notícias, mais de 20 anos depois... Mariana, você prometeu!...
Quanto à minha rua... bem, minha amada e saudosa rua se perdeu no tempo... é um lugar que não existe mais...