"Vem jantar, crianças, tá esfriando..."
Feito ave rapina, nada foge da mira precisa do seu condão,
das vontades repolhas, dos passados de maçã, dos engasgos soluçantes de uma alma manca e servil.
Lembro quando meus ossos foram colocados lado a lado,
lembro quando laçaram minha alma dos confins dos tempos,
lembro sim, e como.
Moleque torto, absorto, estorvo, como sempre fui.
Deveria ter ficado naquele ventre até minhas penas virarem carvão,
virarem sebo, virarem retalhos quaisquer de mim mesmo.
"Vem jantar, crianças, tá esfriando..."
Das suas tantas fadas e falas, poucas ainda fazem serão, ou farão.
Poucas levam o mingau goela abaixo sem chiar, sem pedir perdão,
sem destroçar os mendigos bêbados que temos tanto dentro de nós,
e que nem tampouco conhecemos.
Nas frieiras mancas do destino engatilhou um novo fado,
quiçá um sambinha mambembe, matreiro, atroz.
Foram, por certo, se fartando de sonhos, de rebanhos, de poças de lama pra pisar fazendo graça, que foi dada à luz.
"Vem jantar, crianças, tá esfriando..."
Quem tiver novas alegorias carrascas pra desredear as faces virgens que trago no bolso, pois não.
Quem for levado o suficiente para não mais dormir só pra querer sonhar, acordando tudo o mais que tiver direito,
que diga sim, que diga fim, diga lá o que bem entender.
"Vem jantar, crianças, tá esfriando..."
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