Os olhos de Liz Taylor
Os olhos de Liz Taylor
Até hoje ainda tenho dúvidas se aqueles olhos seriam azuis, violetas ou da cor de águas mutantes. Nunca os vi de perto. Somente pela telona. Logo me apaixonei por eles. Amor à primeira vista, desses que nos põem pelo avesso. É que aqueles olhos me invadiam, penetravam minhas entranhas, deixando-me desnudo, transparente. Pareciam estar sempre a me contemplar, observando cada movimento, cada gesto que fizesse. A natureza resumia-se naqueles olhos. Embora todo o restante fosse igualmente belo, os olhos bastariam. Espadas cintilantes a cortar carne e alma.
Nem sei quantas vezes sonhei tentando mergulhar naqueles olhos. Desvendar os seus mistérios. Quanta presunção. Mesmo que tivesse todas as mulheres do mundo, e veja que só tenho a minha, seus olhos não seriam como o de Liz. Não há nada a que se possa comparar. Não sei como seria se Da Vinci juntasse o sorriso da Monalisa com os olhos de Liz. Quantos mistérios caberiam. Melhor nem pensar para não fundir a cuca. Os olhos de Liz são poesia, águas mutantes, sol escaldante, brasa viva.
Não nego o meu ciúme e a minha revolta quando aqueles olhos fitavam de forma apaixonada o seu eterno amor Richard Burton. Queria-os só para mim. Egoísmo exacerbado. Naqueles olhos cabem todos os homens do mundo.
Imagino-me até, sem sadismo, sendo aquela áspide que a picou em “Cleópatra, a Rainha do Nilo”, quem sabe contemplando seus olhos. Como esquecer aqueles olhos tristes de “Assim Caminha a Humanidade” ou os sedutores de “Adeus as Ilusões”. Quem poderia, ou ousaria, resisti-los. Seja qual fosse a circunstância, apresentavam-se sempre esplendidamente belos. Azuis, violetas, ou ambos.
Impressiona como nem mesmo o tempo, esse que tanto nos machuca e nos marca, conseguiu tirar o esplendor dos olhos de Liz, fulgurantes até o último suspiro, eternizado nas telas e em minha memória.
Os olhos de Liz tornaram-se imortais e eu pobre mortal ainda tenho a alegria de contempla-los, como o sol da manhã e o ocaso de uma noite convidando-me a novos sonhos.
Um desses dias, ou noites, não lembro, meu sonho estendeu-se além dos olhos e acordei todo molhado. De suor, evidentemente.