DA JANELA  DO MEU QUARTO       (foto do autor)
 
 
Aqui na cama do meu quarto, onde lutei contra febres delirantes, em que me via cercado de sereias douradas, que roçavam meu corpo sensualmente e que me causavam deliciosas cócegas com as bolhas que expeliam, estou, ainda, convalescendo.
O que foi? Não sei.  A única coisa que encontraram em mim, no atendimento de urgência do Barra D'Or, foi nível de potássio muito baixo (2,7 quando o normal fica na faixa de 3,5 a 5).
Voltei para casa, com uma receita de antibiótico, um repositor de potássio e uma cartela de
Novalgina, para manter a febre sob controle.
No dias que se seguiram, fiquei sob os cuidados da enfermeira diplomada, D.Lee, que, extrapolando seus dever profissional, passou a dormir comigo, para não dar tréguas à doença.  A ela devo o calor e a energia para me manter na luta. A ela devo o esforço de manter o fogo aceso, não com o ímpeto desejável, mas, pelo menos, uma brasinha modesta.
A medicação e o calor da enfermeira acabaram com os efeitos mais sérios do que quer que fosse.  Cessou a febre (infelizmente, as sereias se foram também), estão acabando, da mesma forma, a fadiga, o desanimo, a prostração  e o paladar vai retornando.
 
No primeiro dia em que me senti melhor, levantei, abri a cortina e a paisagem já tão conhecida surgiu esplendorosa; um céu de puro azul, um mar muito manso, muita gente na praia, com centenas de barracas vermelhas, dando um colorido inusitado ao cenário, mas, principalmente,
o majestoso recorte da Pedra da Gávea, solene, franjado de verde, com seu paredão impressionante, cuja cor cambia segundo o passar das horas.
Mas, hoje, eu o vi  mais belo do que nunca, com sua imponência de soberano, com seu cume em forma de mesa, inconfundível, que serve de ponto de referência a quem vem do mar.
Com mais de 800 metros de altura, é o maior monólito a beira do mar do mundo e o primeiro nome em português dado a uma montanha carioca..  Seu nome provém da semelhança que os navegantes portugueses notaram com o cesto da gávea, que é justamente aquele local, lá em cima do mastro principal das naves, onde permanece o vigia.
Lendas diversas são atribuidas a essa maravilhosa montanha e uma delas gira em torno de uma inscrição gravada na pedra, em fenício, "LAABHTEJBARRIZDABNAISINEOFRUZT" o que, traduzido, seria  "AQUI BADEZIR REI DE TIRO FILHO MAIS VELHO DE JETHBAAL"
Outra, refere-se ao chamado "Portal da Pedra da Gávea" que consiste num recorte, com 8 metros de largura por l6 de altura, (foto que farei chegar a vocês, via e-mail) que estaria associado à formação da cidade mítica Shambhala.
Essa cidade, realmente, teria existido em torno de 5000 a 6000 anos atrás, nas proximidades do Nepal.
Altamente desenvolvida, seus habitantes, extraordinariamente inteligentes, moral, espiritual e tecnologicamente evoluídos, teriam até conhecimento e usavam a energia solar e atômica..
Segundo a teosofia, a cidade pode ser um lugar físico, como espiritual , ao qual só teriam acesso pessoas altamente evoluídas e isso só seria possível através de um portal dimensional.
Seu nome, em sânscrito, significa “um lugar de paz, felicidade, tranqüilidade”.
É conhecida, também, como a capital do Reino de Agartha, formado por oito cidades etéricas, como referido nas religiões Hinduísta, Taoista e Budista.
O escritor inglês. James Hilton, em 1935, descreveu-a como sendo  a “misteriosa e fascinante Shangri-lá.”
 
Afrontando diretamente o mar, a Pedra da Gávea está ali há milhões de anos e, mesmo castigada pela intempérie e pelo vandalismo humano, ali vai permanecer eternamente, demonstrando sua inquebrantável força e beleza comovente.
 
Ao vê-la, após dias de alheamento, de inércia, de dor, de fadiga extrema, senti  sua presença como um grito de guerra, de superação, de garra...e me senti bem melhor.
Dou-lhe um aceno como homenagem e gratidão e lhe digo, sinceramente; - Gostaria de ser  como você, montanha querida!
paulo rego
Enviado por paulo rego em 30/01/2012
Reeditado em 31/01/2012
Código do texto: T3470267