Rita Lee, aposentadoria em Aracaju

Quem acompanhou a carreira de Rita Lee não esperaria uma despedida diferente da que aconteceu em Aracaju. A notícia se espalhou pelo mundo, a experiente roqueira desafiando a polícia e sendo levada à Delegacia Plantonista. Dormi perto de Rita, pois a minha casa fica a poucos metros desse órgão policial, e só fiquei ciente da ocorrência este fim de tarde.

A capital de Sergipe está outra, diferente dos bons tempos em que logo tudo se sabia entre nós. Criou-se então o paradoxo da modernidade, morando aqui, mas fico sabendo pela mídia nacional e estrangeira.

Sabemos quem é a Rita, a pessoa e a artista. Interessante e inexplicável isto que temos de curiosidade sobre a vida pessoal, especialmente de gente famosa ligada ao cinema, à música e às artes em geral. Nada demais, então, querer saber, mas daí a se envolver, é outro departamento.

Indivíduos das famílias reais, cantores, artistas plásticos, escritores e outros sempre se notabilizam também pelos escândalos em torno de sua vida e comportamento. A lista é quilométrica, de Brigitte Bardot a Elizabeth Taylor; de príncipes ingleses rebeldes _ que dão dor de cabeça à monarquia _ aos ditadores; de Elvis a Michael Jackson, por todo o planeta há sempre alguém envolvido em um escândalo. Por vezes o escândalo é fomentado em função de salvar carreiras. Este não foi o caso da Rita Lee em Aracaju.

De forma alguma quero me deter na questão sobre as drogas ou sobre o discurso nada surpreendente de uma artista como a Rita Lee. Ela é quem responderá pelo que disse ou fez. A droga é parte do seu show e disto parece que ela nunca fez segredo ou boca miúda, mesmo porque de mínima ela nada tem. É gigantesca e legítima em tudo o que realiza. Se a artista deu ou dá trabalho aos seus queridos familiares, é uma questão lá deles. A nós interessa tomar banho na “banheira de espuma” da roqueira do cabelo vermelho.

A minha juventude foi embalada também nos braços de Rita Lee e sei que não seria ela a pendurar as chuteiras cantando parabéns pra você e nem o Silent Night. Como poderia falar de silêncio se é uma deliciosa barulhenta? Que marcante despedida. Apropriada para toda a trajetória desta mulher que escreveu a história do rock entre nós.

Acredito que, depois deste evento que inscreverá Aracaju no panorama do rock e na história de Rita Lee, quem sabe o pedido de aposentadoria tenha que ser revisto.

Para fechar este texto, deixo aqui um trecho de uma manifestação da roqueira: “É preciso voltar os olhos para a população feminina como a grande articuladora da paz. E, para começar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher. Respeito às suas pernas que têm varizes, porque carregam latas d'água e trouxas de roupa. Respeito aos seus seios que perderam a firmeza, porque amamentaram seus filhos ao longo dos anos. Respeito ao seu dorso que engrossou, porque elas carregam o País nas costas. São as mulheres que imporão um adeus às armas, quando forem ouvidas e valorizadas e puderem fazer prevalecer a ternura de suas mentes e a doçura de seus corações. Nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda. E meu peito não é de silicone; mas sou mais macho que muito homem”.

O texto dela está disponível na íntegra em: http://forum.cifraclub.com.br/forum/9/36301/

taniameneses
Enviado por taniameneses em 29/01/2012
Reeditado em 30/01/2012
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