A ascensão das Novas Ditaduras…

Cada sistema de organização humano possui qualidades, mas também defeitos, mesmo os mais equitativos são passíveis de serem sempre melhorados, pois tal como a condição humana, nada é um produto acabado, há sempre um algo a melhorar. Seguindo este raciocínio, nunca nenhum sistema é perfeito, e por isso quando um sistema cai na arrogância de se considerar o mais perfeito de todos tende para o seu fim…:deixa de ter a necessidade de se melhorar, ficando estático, parado, inerte…E nesse aspecto temos um exemplo bem actual bem perto, bem dentro de nós…: o actual sistema de capitalismo selvagem, de profunda desrulação onde tudo se submete aos mercados, ao económico tende a esquecer as pessoas, a desumanizar estas, não sendo por isso por exemplo de estranhar o cada vez maior número de idosos que morrem sós e que são ignorados ao ponto de ninguém dar pela sua falta…Quando se vai para além do aspecto económico e se fala nas pessoas, nas necessidades sociais destas, este sistema olha para o social como uma doença que ameaçasse o seu estado de funcionar…E não é raro ouvir alguns dos defensores deste sistema considerarem-no o mais perfeito da história, simplesmente porque a nível material tudo ou quase tudo está disponível, desde, claro, que se tenha dinheiro para tal…E chegámos a um ponto onde tudo tem um preço, ou pode ter, sendo que o expoente máximo deste absurdo frívolo foi dado num programa de televisão onde um milionário deu um preço a tudo quanto a sua nação tem…como se tudo pudesse ser vendido ou comprado, pois esta é a lógica que predomina, uma lógica que não é nova, pois programas onde se avalia o preço de monumentos são comuns, esquecendo o valor afectivo que quem visita ou vê esses monumentos tem…Obliterou-se o sentir, pois o sentir não é contabilizável na lógica económica…Esta desumanização é por demais preocupante, pois indivíduos com ideias ditatoriais, até há bem pouco tempo consideradas nefastas, podem ver no crescente descontentamento popular, na necessidade das pessoas que olhem para elas como pessoas e não como números, uma forma de verem as suas ideias nefastas e daninhas aceites…: para tal basta que prometam o que o actual sistema tirou…: preocupação social, preocupação com as pessoas, sendo que o que querem realmente é o poder pelo poder, o poder absoluto…Isto já aconteceu na história, isto vai voltar a acontecer, pois o actual sistema não consegue perceber que deve servir as pessoas e não são as pessoas que o devem servir…E assim em pleno século XXI veremos a ascensão de ditaduras, mascaradas de democracias, mas que não deixam de serem ditaduras, que paulatinamente irão abolir direitos fundamentais, liberdades individuais e colectivas, sendo que em troca darão a tal preocupação com as pessoas que este sistema de forma algo criminosa descurou…E as pessoas carentes, emocionadas, por alguém se preocupar com elas, darão de bom grado essas liberdades em troca da tal falsa preocupação…E tudo seria tão mais fácil se o actual sistema em vez de esbanjar somas quase infinitas em prol da multiplicação da sua riqueza (que circula sempre pelos mesmos e não pelas pessoas, não é realmente redistribuída…) simplesmente partilhasse alguma dessa riqueza com as pessoas, não para alimentar viciosos que se encostam ao sistema, que nada fazem e que se limitam a viver à custa dele, mas distribuísse essa riqueza para que as desigualdades sociais, a miséria que começa a grassar de forma alarmante nas nossas cidades, nos nosso campos, na nossa sociedade dita democrática fosse diminuída para níveis mais toleráveis…Tudo seria bem mais fácil e assim se evitaria a ascensão das novas ditaduras…Mas na cegueira de multiplicar ainda mais os seus lucros, tal não vai acontecer…E assim quando estivermos dominados pelas tais ditaduras devemos lembrar-nos quem realmente deu lugar a elas, deu espaço para que elas aparecessem…Porque a história já nos ensinou que as piores ditaduras são eleitas, alimentam-se das desigualdades do sistema que a precedeu…a história já nos ensinou tal, mas nos teimamos, persistimos em não ouvir a história…